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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 66<br />

sublinhar que, na fase pós-independência, as trocas comerciais nunca se interromperam,<br />

ain<strong>da</strong> que as <strong>no</strong>vas situações (de mercado e política) tenham contribuído para um<br />

significativo abran<strong>da</strong>mento 65 . Segundo Fátima Bonifácio, teria sido Lisboa quem mais<br />

sentiu a per<strong>da</strong> do mercado brasileiro, pois <strong>no</strong> Porto, depois de uma quebra de 1/2 logo<br />

após a independência, verificou-se mesmo, na déca<strong>da</strong> de 1820 uma recuperação <strong>da</strong>s<br />

exportações face aos valores iniciais de Oitocentos. 66<br />

Um elemento perturbador neste processo de <strong>no</strong>rmalização foi o surgimento <strong>da</strong><br />

pauta alfandegária setembrista (1837) 67 , que penalizava fortemente alguns produtos<br />

brasileiros, especialmente a aguardente de cana e o arroz. Encara<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil como um<br />

acto deliberado de hostili<strong>da</strong>de, suscitou ali medi<strong>da</strong>s de retaliação e, por cá, uma forte<br />

campanha para a sua revisão, quer por parte dos grupos de pressão comerciais,<br />

especialmente <strong>da</strong> Associação Comercial do Porto, quer na imprensa afecta a este tipo de<br />

interesses. Considerando que a oneração dos produtos brasileiros entrava em contradição<br />

com o Tratado de 29 de Agosto de 1825, que <strong>no</strong> seu artigo 10 previa o restabelecimento<br />

<strong>da</strong>s relações comerciais entre os dois países com a taxa recíproca de 15% de direito de<br />

consumo, o gover<strong>no</strong> brasileiro através do decreto nº 36 de 6 de Maio de 1839, elevava a<br />

50% o imposto sobre os vinhos e bebi<strong>da</strong>s espirituosas importados, numa medi<strong>da</strong> com<br />

implicações directas na importação dos vinhos portugueses 68 . Solicita<strong>da</strong> a <strong>da</strong>r o seu<br />

parecer, a Associação Comercial do Porto, preocupa<strong>da</strong> com mais um problema para o<br />

Douro, já de si em situação calamitosa, "entende que o mal que está sofrendo o <strong>no</strong>sso<br />

Commercio com o Brazil, provém do ponto de vista me<strong>no</strong>s exacto em que tem sido<br />

65 Cf. BONIFÁCIO, Maria de Fátima, ob.cit., p. 122 ( em especial o quadro sobre o Brasil, por períodos).<br />

66 Idem, ibidem, p. 124. Na diversi<strong>da</strong>de de efeitos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> do mercado brasileiro, vê a autora a origem <strong>da</strong><br />

dissidência entre Porto e Lisboa, ca<strong>da</strong> qual com projectos económicos autó<strong>no</strong>mos como resposta à situação<br />

cria<strong>da</strong>: a primeira defendendo o tratado com a Inglaterra, já que os seus interesses giravam em volta do<br />

triângulo Porto-Brasil-Inglaterra; a segun<strong>da</strong> defendendo a abolição do tratado de 1810 e a criação de um<br />

<strong>porto</strong>-franco que projectasse Lisboa na eco<strong>no</strong>mia mundial.<br />

67 Sobre a participação cartista na elaboração <strong>da</strong> pauta, que os setembristas se teriam quase limitado a<br />

assinar, cf. BONIFÁCIO, Maria de Fátima, ob.cit., pp. 36 e 245-279.<br />

68 Cf. diversos artigos in "Periodico dos Pobres <strong>no</strong> Porto", números de 17, 27 e 29 de Julho, 7 de Agosto<br />

e 21 de Setembro de 1839 , os quais incluem transcrições de jornais brasileiros. Ver, especialmente, um<br />

esclarecimento de Saturni<strong>no</strong> de Sousa e Oliveira, o autor do decreto brasileiro de 6 de Maio (nº de 29 de<br />

Julho)

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