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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Resumindo: <strong>no</strong> centro de constrangimentos diversos, o emigrante é, em grande<br />

medi<strong>da</strong>, o alvo de um jogo em que a família aposta para um determinado projecto de vi<strong>da</strong><br />

e a quem o Estado procura dificultar esse projecto, através de medi<strong>da</strong>s inibitórias ou<br />

francamente proibitivas, de natureza burocrática ou fiscal. Jogo difícil de jogar,<br />

particularmente <strong>no</strong> século XIX, tempo de transição entre o lento esvaziamento do poder<br />

familiar, baseado em relações tradicionais de dependência, e a afirmação civil do ci<strong>da</strong>dão, a<br />

que o Estado através <strong>da</strong> codicologia e de múltiplos regulamentos, procura <strong>da</strong>r uma<br />

configuração de direitos e deveres para com a Nação. Que melhor exemplo de vítima do<br />

que o jovem emigrante, tantas vezes clandesti<strong>no</strong> e por isso sujeito a rudes penalizações, que<br />

começa a chegar ao Brasil desprotegido, impulsionado por uma representação social <strong>da</strong><br />

<strong>emigração</strong> que vai ficando desfasa<strong>da</strong> do <strong>no</strong>vo tempo, na ig<strong>no</strong>rância de que a preparação<br />

escolar e profissional é agora condição "sine qua <strong>no</strong>n" para a integração e o sucesso, à<br />

medi<strong>da</strong> que se vai ultrapassando o lastro de natureza colonial? Trata-se, <strong>no</strong> fundo, <strong>da</strong><br />

oposição entre interesses individuais, familiares e nacionais. As decisões familiares<br />

confrontam-se com o discurso do Estado sobre o indivíduo, ou de certa forma, a<br />

mentali<strong>da</strong>de malthusiana, atenta à relação demo-económica, enfrenta a mentali<strong>da</strong>de<br />

populacionista, para quem a abundância de população é a base <strong>da</strong> riqueza nacional,<br />

assegurando as necessi<strong>da</strong>des militares e de mão-de-obra, considera<strong>da</strong>s como esteios do<br />

progresso. É, pois, num quadro de conflituali<strong>da</strong>des e interesses opostos à parti<strong>da</strong>, a que se<br />

acrescentam os encontrados à chega<strong>da</strong>, com o rude quadro do mercado de trabalho<br />

brasileiro, que o emigrante, tantas vezes jovem e impreparado, se terá de desenvencilhar,<br />

construindo a sua própria auto<strong>no</strong>mia, (re)criando o seu projecto individual.<br />

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