15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 348<br />

do telhado, por onde saía o fumo <strong>da</strong> lareira. Na cozinha ficava frequentemente a capoeira<br />

<strong>da</strong>s galinhas e a cama <strong>da</strong> cria<strong>da</strong> quando esta existia. Fora <strong>da</strong> porta e encostado à cozinha<br />

ficava o alpendre, aonde se guar<strong>da</strong>va a comi<strong>da</strong> do gado e servia de casa <strong>da</strong> eira. O celeiro<br />

(ou casa <strong>da</strong> tulha) era outro compartimento frequente, junto à cozinha, onde se<br />

guar<strong>da</strong>vam os pães em caixas ou arcas, e, quando de dimensão suficiente, nele dormia<br />

pessoa de confiança dos patrões ou até os próprios, pois aí ficava muitas vezes a<br />

salgadeira, pelo que tinha chave na porta. Conforme a dimensão económica <strong>da</strong> "casa"<br />

assim cresciam, na horizontal, <strong>no</strong>vos compartimentos.<br />

Façamos, <strong>no</strong> entanto, uma incursão <strong>no</strong> terre<strong>no</strong> para observarmos alguns exemplos<br />

do mundo tradicional que, aos poucos, se desmorona para <strong>da</strong>r lugar a um outro, de<br />

influências importa<strong>da</strong>s, baseado na transposição para o meio rural de uma composição<br />

arquitectónica em que se <strong>no</strong>ta a influência <strong>da</strong> casa urbana mescla<strong>da</strong> com concepções<br />

tropicais. Um caso interessante, que <strong>no</strong>s revela a substituição <strong>da</strong> "aristocracia agrícola<br />

tradicional" pela família do "brasileiro", é o que se passa com a "Quinta de Quires", em<br />

Vila Nova <strong>da</strong> Telha, a única casa de lavoura <strong>no</strong> lugar do mesmo <strong>no</strong>me <strong>no</strong>s finais do<br />

século passado. Considera<strong>da</strong> ao tempo como uma <strong>da</strong>s maiores casas de lavoura <strong>da</strong> Maia,<br />

superior em muitos aspectos à celebre quinta do Mosteiro de Moreira <strong>da</strong> Maia, a quinta<br />

de Quires surgia como o resultado <strong>da</strong> junção de três ou quatro casas, sucessivamente<br />

uni<strong>da</strong>s através do dote de casamento de três gerações, acabando reuni<strong>da</strong> nas mãos do<br />

capitão de Quires, José Dias Aroso (1785-1849). Foi este que construiu a principal casa<br />

de habitação e, embora não trabalhasse <strong>no</strong> campo, administrava a sua casa, mas "naquelle<br />

tempo não se podia fazer fortuna, as castanhas <strong>da</strong>vam pouco, as lenhas iam to<strong>da</strong>s para<br />

Mattosinhos a troco d'estrume, engor<strong>da</strong> do gado quasi que não havia, restava o trigo e<br />

algum milho e feijão para fazer dinheiro e alguns touros que criados em casa deixavam<br />

quando se vendiam algum lucro". Esta casa passou a seu filho Joaquim de Sousa Aroso,<br />

formado em direito pela Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, o qual, casando em Matosinhos, a<br />

administrava por sua conta, colocando lá um feitor. Desenvolveu algumas obras com<br />

eleva<strong>da</strong>s despesas, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente na mina <strong>da</strong> casa, numa cortinha, <strong>no</strong> arrasar de valas e<br />

paredes que dividiam as antigas parcelas, e depois numa grande plantação de hortaliças e<br />

legumes que tencionava comercializar na ci<strong>da</strong>de do Porto, tal como o leite de numerosas<br />

vacas que comprou para o mesmo fim, para o que mandou construir um carro apropriado.<br />

Negociou ain<strong>da</strong> as muitas carvalheiras que a casa possuía para fazer carvão a vender na<br />

ci<strong>da</strong>de, com o que tirou algum lucro. Mas as hortaliças não produziam por falta de adubo,<br />

as minas de água caíram, a fortuna ia-se desfalcando, pois a "mulher criava muito a<br />

miudo, tratando-se sempre certa grandeza". Ain<strong>da</strong> tencionara murar a quinta, mas ficarase<br />

pelo portão, pensando então em vendê-la. Entretanto, vai dedicar-se à carreira

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!