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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 332<br />

não isento de críticas, pois vários autores se interrogavam pela forma como se<br />

descobriram, de repente, tantos gerentes para tão varia<strong>da</strong>s empresas. De permeio com<br />

membros <strong>da</strong> clássica comuni<strong>da</strong>de comercial do Porto, entre eles os tradicionais <strong>no</strong>mes<br />

de origem estrangeira, aí está, de facto, o jovem de origem humilde que partira há a<strong>no</strong>s<br />

para o Brasil e agora se apresentava como negociante ou capitalista, alguns até<br />

acobertados já com título de <strong>no</strong>breza, numa transmutação que para alguns era rápi<strong>da</strong>,<br />

passando dos negócios de balcão, do lado de lá do Atlântico, para a área financeira que<br />

poucos dominavam. O jogo bolsista em períodos de euforia, a inclinação para as<br />

obrigações de dívi<strong>da</strong> pública em períodos de maior circunspecção, são os seus focos de<br />

atracção. Embora investisse em bens de raiz, o emigrante de <strong>retor<strong>no</strong></strong>, em i<strong>da</strong>de madura ou<br />

avança<strong>da</strong>, preferia o investimento em bens mobiliários, que, em caso de necessi<strong>da</strong>de,<br />

fossem de fácil realização e sujeitos a um juro que <strong>da</strong>va mais garantias de lucro do que o<br />

investimento na área produtiva. Por isso se dizia, na altura:<br />

"Comecei esta chronica registrando os prennuncios de uma crise bancaria, e <strong>da</strong>s<br />

questões monetarias passei naturalmente ao Brazil, porque entre os bancos, a <strong>emigração</strong><br />

e o Brazil, as linhas de passagem são insensiveis. Entre o rapaz que sae d'aqui<br />

phantasiando riquezas, o emigrado que moireja lá na America para realisar a sua<br />

ambição, e o capitalista que volta á patria fun<strong>da</strong>r um banco, não ha pontos de<br />

intersecção. Os tres momentos são uma biographia" 62 .<br />

Se as cíclicas crises bancárias e económicas nacionais se inscrevem <strong>no</strong> quadro<br />

mais vasto de globalização <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia a nível mundial, a estreita interligação <strong>da</strong> praça<br />

do Porto com o Brasil não suscita dúvi<strong>da</strong>s. Por isso, a crise de 1876 não poderia deixar de<br />

se correlacionar com a baixa de câmbio que se verifica desde 1875, a qual terá implicado<br />

uma retracção de remessas à espera de melhor altura, criando dificul<strong>da</strong>des de caixa às<br />

casas bancárias do Porto e Norte de Portugal63 .<br />

É difícil avançar <strong>no</strong> conhecimento deste processo de transferência de moe<strong>da</strong> do<br />

Brasil para Portugal, <strong>da</strong><strong>da</strong> a fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> rede bancária de então, com muitas casas<br />

comerciais, desde as de secos e molha<strong>da</strong>s às de ferragens, a desenvolverem uma acção de<br />

agentes informais, relaciona<strong>da</strong>s com vários bancos. Algumas informações, contudo,<br />

podem recolher-se dum inquérito64 man<strong>da</strong>do realizar <strong>no</strong> Rio de Janeiro, em 1876, pelo<br />

ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, barão de Cotegipe, às casas anuncia<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s jornais como agências<br />

de bancos portugueses e não formaliza<strong>da</strong>s conforme as exigências <strong>da</strong> lei do Império de<br />

62 OLIVEIRA, P. de, "Portugal e Brazil", Revista Occidental, Lisboa, 1875, p.743.<br />

63 Cf. JUSTINO, David, ob. cit., 2º volume, pp. 87-90.<br />

64 Publicado por O Commercio do Porto, em diversos números: 18, 20, 22, 23, 24, 25 de Março e 4, 5, 6,<br />

14, 16 e 17 de Abril de 1877.

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