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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 237<br />

torna-se insuficiente e ao camponês resta-lhe, ca<strong>da</strong> vez mais, o caminho directo <strong>da</strong><br />

<strong>emigração</strong>.<br />

No entanto, o sector agrícola está presente desde o início e a sua<br />

representativi<strong>da</strong>de seria maior se considerássemos os me<strong>no</strong>res de 14 a<strong>no</strong>s. De resto,<br />

como já acontecia <strong>no</strong> século XVIII. Uma análise de porme<strong>no</strong>r mostra-<strong>no</strong>s que a<br />

classificação de lavradores nem sempre significa a de indivíduos já instalados<br />

agricolamente, mas tão que é essa a sua origem, pois muitas vezes são rapazes na casa de<br />

18 ou vinte e tal a<strong>no</strong>s a emigrarem, embora partam também alguns indivíduos já casados<br />

e um pouco mais avançados na i<strong>da</strong>de. Subsistirá sempre a dúvi<strong>da</strong> sobre a ambigui<strong>da</strong>de e<br />

a extensão <strong>da</strong> designação, embora muitos casos referenciados, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente para a zona<br />

<strong>da</strong> Maia, Vila do Conde e Santo Tirso revelem a sua extracção de casas de lavradores<br />

com algum poder económico, como se documenta pelos testamentos afins. Nos a<strong>no</strong>s 40,<br />

para os emigrantes classificados por nós <strong>no</strong> sector primário, a designação de lavradores é<br />

maioritária. Nos a<strong>no</strong>s 60, essa maioria passa já para os "não especificados", os<br />

vulgarmente designados de "trabalhadores", mostrando o engrossamento do cau<strong>da</strong>l de<br />

proletários, indivíduos sem profissão defini<strong>da</strong>, ocupados em trabalhos braçais ao sabor <strong>da</strong><br />

conjuntura e <strong>da</strong> sazonali<strong>da</strong>de, às vezes rumando em direcção aos trabalhos urba<strong>no</strong>s. É<br />

esta população flutuante, a que se vão juntar os camponeses em processo de<br />

proletarização, que vai ser atraí<strong>da</strong> em massa pelos contratos de engajamento que facilitam<br />

os custos <strong>da</strong> viagem e, nas déca<strong>da</strong>s finais, pelas viagens directamente subsidia<strong>da</strong>s pelos<br />

estados brasileiros. Nos fins <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 a proporção dos trabalhadores relativamente<br />

aos lavradores cresce espectacularmente e a referência a estes quase desaparece nas duas<br />

déca<strong>da</strong>s finais. Torna-se, assim, visível a substituição do modelo de <strong>emigração</strong> num<br />

quadro de reprodução social por um movimento de forte proletarização, em consonância<br />

com as transformações complexas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de que, <strong>no</strong> seu conjunto, foram já analisa<strong>da</strong>s<br />

por autores recentes como Miriam Halpern Pereira50 e M. Villaverde Cabral51 ou David<br />

Justi<strong>no</strong>52 .<br />

Neste contexto merecem relevo as alterações sócio-jurídicas, essencialmente<br />

vira<strong>da</strong>s para a "libertação <strong>da</strong>s terras", isto é, visando a sua mobili<strong>da</strong>de, tais como as<br />

cria<strong>da</strong>s com as leis de extinção dos vínculos, as leis de desamortização dos foros e<br />

50 Cf. PEREIRA, Miriam Halpern, Livre-Câmbio e Desenvolvimento Económico, Lisboa, Sá <strong>da</strong> Costa<br />

Editora, 2ª Edição, 1983.<br />

51 Cf. CABRAL, Manuel Villaverde, Materiais para a História <strong>da</strong> Questão Agrária em Portugal - Séc.<br />

XIX e XX, Porto, Editorial I<strong>no</strong>va, 1974. Idem, O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal <strong>no</strong> Século<br />

XIX, Lisboa, A Regra do Jogo, 3ª edição, 1981.<br />

52 Cf. JUSTINO, David, A Formação do Espaço Económico Nacional, Portugal, 1810-1913, 2 vols.,<br />

Lisboa, Vega, 1988.

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