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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 249<br />

retornando pouco depois. Ao todo, "doze vezes fez aquella travessia, que a muitos que a<br />

teem feito só uma unica vez deixa fatigados e sem desejos de <strong>no</strong>va aventura" 74 .<br />

5.7 - Saber ler e escrever<br />

Se a análise <strong>da</strong>s ocupações <strong>no</strong>s revela que, em certa medi<strong>da</strong>, havia uma<br />

preocupação com a aprendizagem de um "saber fazer", e os documentos familiares<br />

(testamentos, doações) e a natureza do mercado de trabalho e do contexto social e<br />

económico <strong>no</strong>s dizem que essa aprendizagem era, muitas vezes, uma etapa prévia à<br />

<strong>emigração</strong>, o que se passava <strong>no</strong> domínio do "saber letrado" dos emigrantes do Porto?<br />

Na primeira metade do século XIX, quando começam a ocorrer os primeiros<br />

escân<strong>da</strong>los com os "engajamentos", o saber fazer e o saber ler e escrever eram<br />

considerados, a um mesmo nível, como condição necessária ao sucesso na <strong>emigração</strong>,<br />

<strong>da</strong>do o país de acolhimento ter uma tradição de escravatura para o trabalho braçal, como<br />

<strong>no</strong>s diz a Revista Universal Lisbonense:<br />

"Os <strong>no</strong>ssos correspondentes de <strong>no</strong>vo recomen<strong>da</strong>m, que não emigrem senão<br />

pessoas que tenham ofício ou rapazinhos que saibam ler e escrever bem, e que todos<br />

paguem as suas passagens. Todos os mais vão procurar a sua desgraça em logar <strong>da</strong><br />

felici<strong>da</strong>de que supõem" 75 .<br />

Entre os desejos e a reali<strong>da</strong>de vai quase sempre uma distância incomensurável!<br />

Mas a ver<strong>da</strong>de é que, a partir dos testemunhos de emigrantes retornados, pode ganhar-se<br />

a convicção de que a preparação literária, ain<strong>da</strong> que rudimentar, era uma tradição na<br />

<strong>emigração</strong> para o Brasil:<br />

"Antigamente entendiam os camponezes - e entendiam muito bem - que antes de<br />

enviarem um filho para o Brazil era do seu imprescindível dever o man<strong>da</strong>l-o ensinar a<br />

ler, escrever e contar; mas este bom costume obliterou-se com o apparecimento dos<br />

engajadores; porque estes não querem saber de aptidões, nem de sexos ou i<strong>da</strong>des: bastalhes<br />

o número de cabeças! " 76 .<br />

Em relação a este testemunho podem obter-se confirmações de origens varia<strong>da</strong>s,<br />

desde a recolha de casos em testamentos, aonde os custos com a escolari<strong>da</strong>de são<br />

contabilizados em desconto <strong>da</strong> legítima, tal como os verificados com a aprendizagem de<br />

74 Cf. PINTO, Almei<strong>da</strong>, "Commen<strong>da</strong>dor Joaquim Pereira Fula", Commercio e Industria, vol. 2, nº 78,<br />

Porto, 1887, s/p.<br />

75 In "Emigração", Revista Universal Lisbonense, 1ª série, 4º tomo, p. 23.<br />

76 SANTOS, J. R. de Oliveira, "Emigração", O Commercio do Porto, de 25 de Novembro de 1886.

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