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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Filtra<strong>da</strong> pela máquina burocrática, a <strong>emigração</strong> legal conduz à produção<br />

documental, desde a que integra o processo <strong>no</strong> qual se vai basear a concessão do<br />

passaporte, até à que leva a sucessivos registos de controlo - registo de emissão, vistos e<br />

referen<strong>da</strong>s em locais de passagem e apresentação, eventualmente títulos de residência <strong>no</strong><br />

estrangeiro. Pelo contrário, a <strong>emigração</strong> clandestina só produz documentação quando se<br />

verifica um insucesso, isto é, quando por qualquer motivo o clandesti<strong>no</strong> é apanhado nas<br />

malhas <strong>da</strong> fiscalização e se transforma num caso de polícia. Mas entre os dois níveis<br />

existem processos intermédios, que, regra geral, se traduzem na viciação documental ou na<br />

utilização abusiva <strong>da</strong> documentação de outrem, numa simulação de legali<strong>da</strong>de. Em muitos<br />

destes casos, o clandesti<strong>no</strong> pode surgir <strong>no</strong>s registos oficiais, ain<strong>da</strong> que de forma<br />

desvirtua<strong>da</strong>. Compreensivelmente, é muito raro a clandestini<strong>da</strong>de transformar-se num<br />

fenóme<strong>no</strong> generalizado, a não ser quando a lei (ou o poder) coarcta indiscrimina<strong>da</strong>mente a<br />

<strong>emigração</strong> (como aconteceu na déca<strong>da</strong> de 60 e 70 com a <strong>emigração</strong> portuguesa para<br />

França). A clandestini<strong>da</strong>de é, sobretudo, fruto de situações específicas, quando a liber<strong>da</strong>de<br />

de movimentos está condiciona<strong>da</strong>, por isso surge adstrita a determinados tipos sociais,<br />

como seja, por exemplo, o jovem em i<strong>da</strong>de militar, ou, mais restritamente, o indiciado em<br />

casos judiciais. Jogo do rato e do gato, a clandestini<strong>da</strong>de assume configurações próprias,<br />

cria redes, promove interesses com o objectivo de contornar a lei e a autori<strong>da</strong>de, como<br />

resposta à urgência de situações individuais.<br />

Neste contexto, importa interrogarmo-<strong>no</strong>s sobre a reali<strong>da</strong>de institucional do<br />

passaporte, enquanto elemento que fornece uma <strong>da</strong><strong>da</strong> imagem <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>. Na ver<strong>da</strong>de,<br />

para análise <strong>da</strong>s configurações <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>, recorremos aos passaportes como principal<br />

base de trabalho, analisando os registos de emissão do Gover<strong>no</strong> Civil do Porto. Sob os<br />

pontos de vista heurístico e hermenêutico, importa, pois, conhecer o quadro legal e os<br />

contextos <strong>da</strong> sua produção como documento administrativo, de forma a avaliar as suas<br />

potenciali<strong>da</strong>des e limites, isto é, a sua representativi<strong>da</strong>de. Ora o passaporte, enquanto<br />

produto institucional, é fruto <strong>da</strong> crescente centralização do Estado, que se começa a sentir<br />

particularmente do século XVII em diante, com a emergência de uma máquina aperta<strong>da</strong> de<br />

controlo e vigilância, que nasce a pretexto <strong>da</strong> defesa militar, em tempos de guerra, e se<br />

prolonga, na paz, em função <strong>da</strong> prevenção e vigilância <strong>da</strong> ordem pública. No caso<br />

particular <strong>da</strong>s limitações de saí<strong>da</strong> para o estrangeiro está, porém, subjacente a doutrina<br />

populacionista, de teor mercantilista, que encara a população como um dos indicadores de<br />

riqueza do Rei<strong>no</strong>, pelo que, tal como em relação aos metais preciosos, se impõe travar a sua<br />

tendência para a "hemorragia", qual per<strong>da</strong> de sangue que enfraquece o corpo <strong>da</strong> nação.<br />

Em termos de registo público de população, com incidência demográfica, o<br />

passaporte é mesmo o primeiro tipo de registo a ser efectuado oficialmente, já que os<br />

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