15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 345<br />

problemas pontuais de investimento através de uma retira<strong>da</strong> por alguns a<strong>no</strong>s, quer fosse<br />

para ganhar o dinheiro necessário à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s "legítimas" aos irmãos e assumir a<br />

proprie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família, ganhar para o dote que lhes permitisse casar socialmente bem<br />

colocados, resolver problemas de dívi<strong>da</strong>s, encetar obras de reforma ou aquisição de bens<br />

na casa, estabelecer-se <strong>no</strong> comércio. Tratava-se, fun<strong>da</strong>mentalmente, de reforçar a posição<br />

individual e/ou familiar <strong>no</strong> tecido social de origem. Era este, com certeza, um quadro<br />

maioritário, sobretudo para os que partiam já adultos, com casamento já delineado ou já<br />

casados, deixando a família deste lado, embora <strong>no</strong> decorrer do percurso pudesse surgir a<br />

reconversão do projecto, dependendo de factores como o grau de inserção conseguido na<br />

socie<strong>da</strong>de de acolhimento ou o fracasso relativo, o nível cambial, etc.<br />

É uma situação que, ao nível modesto, podemos ilustrar deste modo: Domingos<br />

Gomes, do lugar do Teso, em Vilar do Pinheiro, teve dois filhos gémeos - António e<br />

Ana. Enquanto esta casou em casa, o António foi para o Brasil. Arranjando alguma<br />

fortuna, voltou para junto dos pais e casou, passando a residir numa casa que construiu<br />

junto à estra<strong>da</strong>, <strong>no</strong> lugar <strong>da</strong> Igreja, onde se ocupava "com negocio, lavoura e <strong>no</strong> officio de<br />

carpinteiro, que em tudo vae bem porque a mulher muito o aju<strong>da</strong> <strong>no</strong> negocio pois que<br />

sabe ler e escrever". Duma outra família do mesmo lugar nasceram dois irmãos, um ficou<br />

a sapateiro, "outro tendo ido ao Brazil, veio casar, comprando depois uma bouça que foi<br />

deveza junto <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>no</strong> lugar de Sangemil, ali mandou construir uma casa onde<br />

reside com sua mulher e filhos occupando-se <strong>no</strong> officio de carpinteiro como o seu pai" 91 .<br />

O sentido <strong>da</strong> auto<strong>no</strong>mia pessoal e <strong>da</strong> independência surgem aqui de forma vinca<strong>da</strong>, mas<br />

na continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> tradição familiar.<br />

Em muitos casos, esta situação de <strong>retor<strong>no</strong></strong> de conservantismo tinha significados<br />

mais complexos, pois traduzia-se em ver<strong>da</strong>deira ascenção social, assumindo, portanto,<br />

foros de alguma consagração. A prática de casamentos entre as famílias de casas de<br />

lavoura passa agora a contar com estes candi<strong>da</strong>tos, alguns de famílias muito humildes<br />

mas com dinheiro suficiente para o dote necessário, sendo de sublinhar que, neste campo,<br />

se verificou uma autêntica inflação. Dotes que <strong>no</strong>s inícios do século XIX eram inferiores<br />

ao conto de réis (500 ou 600 mil réis) para determina<strong>da</strong>s casas de lavoura, estavam <strong>no</strong><br />

finais do século em 5 a 6 contos de réis, correspondendo tanto a uma maior oferta <strong>no</strong><br />

mercado de casamento como à elevação dos preços <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des agrícolas, em<br />

grande parte fruto <strong>da</strong> maior abundância de dinheiro e do tradicional investimento em<br />

terras por parte dos "brasileiros" e suas famílias. Muitas casas de lavoura do Douro<br />

Litoral, proprie<strong>da</strong>des relativamente extensas na sua dispersão parcelar, de modo a<br />

91 AZEVEDO, Pe. Joaquim Antunes, ob.cit., 2º cader<strong>no</strong>, p. 70 vº.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!