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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 306<br />

aqui o caso. Note-se, <strong>no</strong> entanto, que o período analisado só na recta final acusa o<br />

impacto considerável dos vapores como meio de transporte, pois antes dos a<strong>no</strong>s 70, como<br />

vimos atrás, a <strong>emigração</strong> para o Brasil fazia-se por veleiros, mais incómodos e vagarosos.<br />

Daí que, na análise realiza<strong>da</strong> a re<strong>emigração</strong> cresça com o passar do tempo, em resposta à<br />

mu<strong>da</strong>nça de comportamentos provoca<strong>da</strong> com os estímulos à viagem proporcionados pelas<br />

<strong>no</strong>vas condições técnicas. Julgamos que esse crescimento se intensificará a partir dos<br />

finais do período em estudo, não só em virtude <strong>da</strong>s melhorias e embaratecimento <strong>da</strong>s<br />

viagens, como <strong>da</strong> modificação com a natureza <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>, ca<strong>da</strong> vez mais marca<strong>da</strong> pela<br />

dispersão <strong>da</strong> célula conjugal. Mas para os emigrantes de que tratamos, proceder a uma<br />

<strong>no</strong>va <strong>emigração</strong> era apenas possível a muitos poucos. Quando se retornava era para já não<br />

reemigrar, pelo me<strong>no</strong>s para a grande maioria. São, sobretudo, os negociantes, que podiam<br />

conjugar visitas familiares e turismo com negócio, os grandes protagonistas destes<br />

percursos migratórios pautados pelo <strong>retor<strong>no</strong></strong>, com fixação mais ou me<strong>no</strong>s curta e <strong>no</strong>va<br />

parti<strong>da</strong>, embora haja também situações de pobres, ina<strong>da</strong>ptados e alguns aventureiros.<br />

Naturalmente que a multiplicação <strong>da</strong> parti<strong>da</strong>s se aplicava a ca<strong>da</strong> vez me<strong>no</strong>s indivíduos,<br />

pelo que a 4ª viagem já só representa 0,5% <strong>da</strong>s parti<strong>da</strong>s.<br />

6.2 - Brasileiros e abrasileirados<br />

- em tor<strong>no</strong> de um inquérito<br />

O <strong>retor<strong>no</strong></strong> na <strong>emigração</strong> do Brasil era, pois, elevado, apesar dos textos oficiais<br />

quase não o reconhecerem e de o fenóme<strong>no</strong> se tornar pouco visível em termos sociais.<br />

Essa invisibili<strong>da</strong>de crescia, de resto, à medi<strong>da</strong> que chegava um ou outro mais<br />

enriquecido, ofuscando com as suas benemerências a acção discreta dos restantes. E<br />

como o <strong>retor<strong>no</strong></strong> empobrecido funcionava como uma atestação pública de fracasso,<br />

raramente se dirigia para o local de parti<strong>da</strong>, evitando familiares e conhecidos, na medi<strong>da</strong><br />

do possível. Em todo o caso, o nível de sucesso será sempre relativizado na socie<strong>da</strong>de de<br />

parti<strong>da</strong>, aferido por parâmetros que escapam ao emigrante que retorna. A verve popular e<br />

<strong>da</strong> imprensa, não se furta a distinguir entre os "brasileiros", que teriam provado a sua<br />

capaci<strong>da</strong>de individual de realização através de estadias prolonga<strong>da</strong>s e transforma<strong>da</strong>s num<br />

visível sucesso económico, e os "abrasileirados", com estadias ligeiras e não<br />

significativas sob o ponto de vista económico. A memória colectiva conserva ain<strong>da</strong><br />

algumas <strong>da</strong>s maroteiras que os rapazes <strong>da</strong>s aldeias protagonizavam sobre os seus jovens<br />

conterrâneos que voltavam de bolsos vazios, mas vestidos com o exótico fato branco,<br />

incompatível com os hábitos do campo. Autênticos rituais de humilhação a filtrarem a

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