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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Como o próprio governador refere, nem todos os colo<strong>no</strong>s indicam a situação em que<br />

embarcam, simulando pagar a viagem, em face <strong>da</strong>s obrigações que tal implicaria para os<br />

proprietários dos navios face à legislação existente, pelo que os números avançados tocarão<br />

a reali<strong>da</strong>de muito por baixo. Na ver<strong>da</strong>de, radica aqui a grande dificul<strong>da</strong>de de quantificação.<br />

A classificação de colo<strong>no</strong> atribuí<strong>da</strong> à saí<strong>da</strong> de Portugal é apenas uma probabili<strong>da</strong>de que, na<br />

maior parte <strong>da</strong>s vezes, se confirma. No entanto, a prática de contratos clandesti<strong>no</strong>s e os<br />

engajamentos feitos na hora do desembarque faz subir vertigi<strong>no</strong>samente os níveis aqui<br />

encontrados, se acreditarmos na documentação consular. Mas não podemos esquecer, por<br />

outro lado, que embora em me<strong>no</strong>r quanti<strong>da</strong>de, a situação de viagem a pagar <strong>no</strong> desti<strong>no</strong> é<br />

sempre susceptível de não se traduzir num contrato de locação de serviços, pois quer os<br />

cônsules, quer negociantes do Brasil procediam ao pagamento <strong>da</strong> passagem e favoreciam à<br />

arrumação de muitos dos jovens recém-chegados. Por fim, não esqueçamos os que se<br />

subtraíam às obrigações contratuais, quer fugindo na hora do desembarque, quer<br />

posteriormente. Mas de qualquer modo, o rótulo de <strong>emigração</strong> de contratados está longe de<br />

se poder generalizar a todo o fluxo migratório que do Norte de Portugal sai pela barra do<br />

Douro, que<strong>da</strong>ndo-se os números avançados pelos 17% do total de saí<strong>da</strong>s, com momentos de<br />

maior intensi<strong>da</strong>de. Mesmo aceitando a grande ocultação <strong>da</strong> celebração destes contratos,<br />

supondo que a reali<strong>da</strong>de pudesse duplicar aquela percentagem, a <strong>emigração</strong> livre<br />

continuaria maioritária.<br />

Como veremos adiante, a proporção de colo<strong>no</strong>s <strong>no</strong> fluxo emigratório que sai apenas<br />

do distrito do Porto apresenta números ain<strong>da</strong> mais baixos, atendendo apenas aos <strong>da</strong>dos<br />

fornecidos à parti<strong>da</strong>. Mas, neste contexto, importa citar um conhecedor profundo <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de brasileira <strong>da</strong> época: "Os nucleos coloniaes portuguezes, fun<strong>da</strong>dos uns após outros<br />

<strong>no</strong> imperio, abortaram completamente sem nenhum successo apreciavel. E a razão d'isto é<br />

simples. Encontram alli os colo<strong>no</strong>s portuguezes maior facili<strong>da</strong>de e vantagens, que os de<br />

quaesquer outras nacionali<strong>da</strong>des. A identi<strong>da</strong>de de lingua e de costumes, bem como os<br />

laços e affini<strong>da</strong>des de familia, conciliam-lhes a convivencia e muitas vezes a intimi<strong>da</strong>de,<br />

quer de nacionaes, quer de compatriotas, alli estabelecidos em quasi to<strong>da</strong>s as villas e<br />

ci<strong>da</strong>des, com mais ou me<strong>no</strong>s antigui<strong>da</strong>de. Enquanto não conhece o paiz, conforma-se<br />

ordinariamente o colo<strong>no</strong> portuguez com as estipulações do seu contracto; mas logo que<br />

aquella circunstancia desapparece [...] refluem então para os centros industriaes e<br />

commerciaes, onde vão encontrar facil emprego e mais larga recompensa de seu trabalho.<br />

É por isto que hoje em Portugal apenas se faz de longe em longe um ou outro contracto de<br />

locação de serviço." 92<br />

92 CARVALHO, A., ob. cit., pp. 284-285.<br />

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