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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 318<br />

A estatística confirma, de algum modo essa imagem, pois a i<strong>da</strong>de média desses<br />

retornados entre 1863-1873 é de 42 a<strong>no</strong>s, com uma mo<strong>da</strong> um pouco mais eleva<strong>da</strong>, os 50<br />

a<strong>no</strong>s, embora haja aqui um efeito de arredon<strong>da</strong>mento. Naturalmente, com uma dispersão<br />

acentua<strong>da</strong>, pois em todo o tempo se regressa do Brasil, embora a concentração desse acto<br />

seja claramente, entre os 30-54 a<strong>no</strong>s.<br />

Uma <strong>emigração</strong> de curta duração significava, de certeza, insucesso, pelo que, a<br />

componente que optava por regressar esperaria o tempo suficiente para amealhar o<br />

dinheiro que consideravam suficiente ao seu projecto: se uns conseguiam cumprir esses<br />

objectivos, outros não esperavam e regressavam logo que podiam, outros ain<strong>da</strong> nunca<br />

mais os alcançavam e por lá se ficavam, na esperança de o conseguir ou, muito<br />

simplesmente, reconvertendo os objectivos iniciais de alcançar fortuna. Veja-se, sobre<br />

este último caso, a apresentação <strong>da</strong> personagem romancea<strong>da</strong> por Gomes de Amorim, que<br />

se deixou seduzir por comportamentos existencialistas e, nas margens do Amazonas,<br />

caçava, pescava e passeava, enquanto a índia que tinha como mulher trabalhava na roça,<br />

fazia a farinha, os vinhos e a comi<strong>da</strong>:<br />

"Chamo-me António Ferrugem; nasci <strong>no</strong> Porto e vim para o Brasil muitos a<strong>no</strong>s<br />

antes <strong>da</strong> independência deste país. Por mais de vinte vezes arranjei alguns tostões, que<br />

os ladrões me comeram, e outras tantas voltei ao trabalho, como um burro de carga!<br />

Meti-me pelos sertões, aprendi os dialectos dos povos selvagens com quem convivi;<br />

tentei enriquecer por todos os modos possíveis!... A fortuna havia-me declarado guerra e<br />

judiava comigo sem cessar! Aborrecido, cansado, e convencido por fim de que neste<br />

mundo a felici<strong>da</strong>de é como ca<strong>da</strong> um a encara, deixei-me de asneiras e aceitei a situação<br />

que me oferecia a sorte." 42<br />

O ciclo migratório, ou seja, o espaço entre a parti<strong>da</strong> e o <strong>retor<strong>no</strong></strong>, era, assim, muito<br />

disperso. Se maioria dos que retornavam se demoravam escassos a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Brasil, outros<br />

havia que, tendo partido jovens, só voltavam na velhice, mas, <strong>no</strong> entanto, cerca de 50%<br />

dos que voltavam faziam-<strong>no</strong> antes dos 10 a<strong>no</strong>s de ausência (Quadro 6.7). Porventura,<br />

essa proporção seria ain<strong>da</strong> mais dilata<strong>da</strong>, se dispuséssemos deste intervalo para os<br />

indivíduos considerados sem fortuna (segundo mapa do inquérito).<br />

42 In "Viagens pelo interior do Brasil", cit, por PEIXOTO, Jorge, "Novos elementos bibliográficos <strong>da</strong> obra<br />

de Francisco Gomes de Amorim", Póvoa de Varzim - Boletim Cultural, vol.. XII, nº 1, 1973, p.96. Já atrás<br />

<strong>no</strong>s referimos ao autor, antigo emigrante que partiu aos 10 a<strong>no</strong>s <strong>da</strong> Póvoa de Varzim, regressando mais<br />

tarde com o apoio de Garrett, para se tornar um escritor de reconhecidos méritos, em cujas obras perpassa a<br />

sua vivência do Brasil.

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