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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 343<br />

encurtamento <strong>da</strong>s viagens com os vapores. Não raro estas viagens agravavam o mal e<br />

então o <strong>retor<strong>no</strong></strong> assumia os contor<strong>no</strong>s dramáticos do desterrado que vem, literalmente,<br />

exalar o último suspiro na terra natal, às vezes nem tendo tempo de chegar à sua aldeia, à<br />

casa <strong>da</strong> família, morrendo pelo caminho. Em termos epidemiológicos e já <strong>no</strong> século XX,<br />

chegou mesmo a ser questiona<strong>da</strong> a ligação <strong>da</strong>s regiões de <strong>emigração</strong> e <strong>retor<strong>no</strong></strong> à<br />

propagação <strong>da</strong> tuberculose. Neste campo, as associações de portugueses <strong>no</strong> Brasil 86<br />

tiveram um papel importante <strong>no</strong> repatriamento, subsidiando o regresso de emigrantes<br />

inválidos, embora, aqui e ali, surjam situações que <strong>no</strong>s permitem desconfiar dos números<br />

oficiais, não <strong>no</strong> seu quantitativo apresentado, mas na adequação do subsídio, pois alguns<br />

casos de repatriamento nesta situação são seguidos de <strong>no</strong>va <strong>emigração</strong> para o Brasil pelos<br />

respectivos protagonistas. Neste movimento de inválidos e subsidiados ocorreriam<br />

sempre alguns processos me<strong>no</strong>s transparentes, permitindo a alguns fazerem a viagem à<br />

terra gratuitamente.<br />

Dos que retornam com saúde mas sem sucesso económico há ain<strong>da</strong> os que se<br />

vêem obrigados a partir de <strong>no</strong>vo, seja por ina<strong>da</strong>ptação social, seja por rejeição familiar,<br />

por não quererem carregar o fardo do "insucesso" e acharem que, apesar de tudo, o Brasil<br />

ain<strong>da</strong> representa alguma oportuni<strong>da</strong>de. Nos testamentos surgem alguns casos de chama<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>s despesa <strong>da</strong>s duas viagens à conta final de partilhas, lendo-se alguma desilusão nestas<br />

situações, o que terá criado o ambiente propício à re<strong>emigração</strong>. Naturalmente que outros,<br />

com mais auto<strong>no</strong>mia, preferem partir para a ci<strong>da</strong>de e procurar os empregos de tipo<br />

urba<strong>no</strong>. Veja-se o caso de José Francisco <strong>da</strong> Silva, de Vilar do Pinheiro. Criança travessa<br />

e alenta<strong>da</strong>, passava a vi<strong>da</strong> a jogar o soco com os outros rapazes, pelo que constantemente<br />

havia queixas à família. Então, "sua mãe, viúva, receando mais tarde não poder com elle<br />

o mandou para o Brazil para um seu primo que ali estava onde se demorou uns a<strong>no</strong>s,<br />

sem fortuna alguma fazer, mas muito mais civilizado do que tinha ido. Voltando tomou<br />

conta <strong>da</strong> sua casa, deu bom viver a sua mãe e olhou pelas suas duas irmãs". Trouxe o<br />

gosto de se instruir, ora lendo, ora falando com pessoas cultas, mostrando "habili<strong>da</strong>de<br />

rara para composição e paz entre os desavindos", a tal ponto que esquecia os interesses<br />

próprios, tendo de arren<strong>da</strong>r as suas terras, apesar de nelas proceder a algumas reformas.<br />

Era um dos mais activos nas festivi<strong>da</strong>des locais ao S. Bartolomeu, principalmente na<br />

dinamização <strong>da</strong>s iluminações em cascata que se tornaram célebres e foram imita<strong>da</strong>s <strong>no</strong><br />

Palácio de Cristal do Porto. Mas, face à ingratidão senti<strong>da</strong>, abando<strong>no</strong>u a sua casa e foi<br />

86 Como exemplo, veja-se a acção <strong>da</strong> Caixa de Socorros D. Pedro V, <strong>no</strong> Rio de Janeiro, com uma<br />

diversifica<strong>da</strong> acção filantrópica que já ultrapassou os 125 a<strong>no</strong>s. Cf. SILVA, Maria Beatriz Nizza <strong>da</strong>,<br />

Filantropia e Imigração - A Caixa de Socorros D. Pedro V, Rio de Janeiro, 1990. Uma relação <strong>da</strong>s<br />

principais associações portuguesas <strong>no</strong> Brasil <strong>no</strong>s princípios deste século pode ser li<strong>da</strong> em SILVA,<br />

Fernando Emygdio <strong>da</strong>, ob., cit., pp.277-285.

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