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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 394<br />

A partir de agora, o seu tempo vai ser repartido entre Paredes de Coura e<br />

Lisboa 194 , tanto mais que, a partir de 1882, vai ser o presidente <strong>da</strong> Câmara courense,<br />

cargo que exerce até 1895. Aí, <strong>no</strong> lugar <strong>da</strong> casa paterna aonde nascera (em Mantelães),<br />

constrói, finalmente, o seu palacete, arredon<strong>da</strong>ndo a proprie<strong>da</strong>de, adquirindo outros em<br />

volta, cercando-a com um pesado muro de cerca de dois metros. Ergue um e<strong>no</strong>rme<br />

edifício, incluindo capela anexa, que pinta de ocre amarelo, cobrindo a frontaria de<br />

azulejo, pintando as numerosas e amplas janelas de verde e encimando-o com as<br />

tradicionais estátuas alegóricas <strong>da</strong>s virtudes morais e um me<strong>da</strong>lhão ogival, <strong>no</strong> centro, em<br />

pedra lavra<strong>da</strong>, com as iniciais do seu <strong>no</strong>me em alto relevo195 . Um pesado portão de ferro<br />

rendilhado antecipa a esca<strong>da</strong>ria de entra<strong>da</strong>. À esquer<strong>da</strong>, jardim com repuxo, à direita<br />

bosque com árvores exóticas, a ocultar um e<strong>no</strong>rme pombal acastelado. Mais além, numa<br />

imitação estrutural <strong>da</strong> "casa-grande" brasileira, vai construir o edifício <strong>da</strong> cocheira e<br />

habitação para o feitor. O resto do espaço dedica-o a fieiras de lata<strong>da</strong>s para a produção de<br />

vinho verde, embora o local não o aconselhasse, <strong>da</strong><strong>da</strong> a humi<strong>da</strong>de existente. Mas era<br />

preciso encher os e<strong>no</strong>rmes tonéis que ocupavam a grande adega, abrindo de espanto a<br />

boca dos minúsculos lavradores <strong>da</strong> região, <strong>da</strong>ndo um sentido de produção organiza<strong>da</strong> e<br />

vira<strong>da</strong> para o mercado a uma cultura tradicional.<br />

O industrialismo não estava esquecido. Cem metros em frente ao palacete, na<br />

outra margem do rio fronteiro que dá o tom paradisíaco à paisagem, estabelece uma<br />

fábrica de lacticínios, a qual começou a funcionar provisoriamente a 8 de Maio de 1891<br />

e em instalações de raiz a 17 de Fevereiro de 1892. Fábrica de pequena dimensão, mas<br />

equipa<strong>da</strong> com aparelhagem moderna, incluindo máquina a vapor, para cuja direcção<br />

técnica mandou vir um especialista francês. A breve trecho a activi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fábrica estava<br />

"consubstancia<strong>da</strong> com a vi<strong>da</strong> doméstica e económica <strong>da</strong> população regional. O seu<br />

desaparecimento acarretaria pe<strong>no</strong>sas dificul<strong>da</strong>des ao movimento comercial e económico<br />

desta locali<strong>da</strong>de, pois muitas famílias trazem pauta<strong>da</strong> a sua administração pelas<br />

receitas que auferem <strong>da</strong> fábrica, com a ven<strong>da</strong> do leite" 196 . A manteiga de Mantelães foi<br />

coloca<strong>da</strong> <strong>no</strong> mercado e tor<strong>no</strong>u-se um produto apreciado <strong>no</strong> País.<br />

194 É por essa altura que casa a filha Elzira com um prometedor quadro do partido regenerador, Bernardi<strong>no</strong><br />

Machado, natural do Rio de Janeiro, filho de outro seu amigo, colega na praça comercial do Rio e<br />

correligionário, o Barão de Joane. Talvez por influência do genro, que depois aderiu à República, com<br />

sucesso, tenha Miguel Dantas recusado o título <strong>no</strong>biliárquico com que o queriam enfeitar <strong>no</strong> tempo de D.<br />

Carlos.<br />

195 O palacete, que viria a servir de residência de férias de Bernardi<strong>no</strong> Machado, e que, na fase final <strong>da</strong> sua<br />

vi<strong>da</strong>, lhe serviu para o exílio inter<strong>no</strong> que lhe foi imposto pelo Estado Novo, foi, <strong>no</strong> final dos a<strong>no</strong>s 60,<br />

arrematado em praça por um "america<strong>no</strong>", ou seja, um outro "ex-emigrante". O alto-relevo do me<strong>da</strong>lhão foi<br />

substituído por um mármore funéreo, com a identificação do <strong>no</strong>vo proprietário, e o ocre amarelo deu lugar<br />

ao azul plástico.<br />

196 CUNHA, Narcizo Alves C., No Alto Minho - Paredes de Coura, 2ª edição, P. de Coura, 1979, p. 244-

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