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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

por diversas freguesias; ou ain<strong>da</strong> o exemplo do estaleiro naval de Vila do Conde, aonde<br />

acorriam calafates e marinheiros de diversas freguesias (Árvore, Vila Chã, Labruge,<br />

Modivas, Vairão, Fornelo, Malta, Gião). Mas, sem dúvi<strong>da</strong>, que o mercado de mão-de-<br />

obra e de produtos nesta região era, por excelência, a ci<strong>da</strong>de do Porto. Carvoeiros,<br />

padeiros, cesteiros, serradores, tecelões, etc., trabalhavam para vender <strong>no</strong> Porto ou nas<br />

inúmeras feiras dos seus arredores, desenvolvendo uma prática de trabalho domiciliário<br />

que perdurará quase até ao século XX, pois mesmo o grande desenvolvimento <strong>da</strong><br />

indústria do algodão <strong>no</strong> Porto assentará nesta base, para ela trabalhando inúmeros<br />

tecelões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s redondezas9 . Por outro lado, o desenvolvimento urba<strong>no</strong>, com a<br />

abertura crescente de <strong>no</strong>vos ruas e o acelerar <strong>da</strong> urbanização, atraía as profissões<br />

ambulantes liga<strong>da</strong>s à construção, como ain<strong>da</strong> acontece um século depois, tal como se<br />

descreve <strong>no</strong> Relatório do Inquérito Industrial de 1881:<br />

"Vallongo, Bouças, Maia e Gaia contam conjunctamente 4:234 pedreiros,<br />

carpinteiros e estucadores, porque na maxima parte esses operarios, residindo <strong>no</strong>s<br />

arrabaldes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, trabalham á semana <strong>no</strong> Porto. Os salários mencionados <strong>no</strong> mappa<br />

são os correntes <strong>no</strong>s concelhos, para as suas obras próprias; e, salvo Gaia, são baixos,<br />

porque naturalmente são os peiores ou os mais velhos os que não vivem de ir trabalhar<br />

ao Porto. O operario dos arrabaldes vem aos bandos á segun<strong>da</strong>-feira de madruga<strong>da</strong>,<br />

carregado com a sacca onde traz a brôa para to<strong>da</strong> a semana; vive durante ella<br />

arranchado pelas obras ao caldo; e ao sabado regressa a passar o domingo em casa<br />

com a familia, que entretanto cui<strong>da</strong> <strong>da</strong> lavoura e <strong>da</strong> engor<strong>da</strong> dos bois. Em grande parte<br />

os operarios são tambem lavradores, peque<strong>no</strong>s proprietarios e as eco<strong>no</strong>mias do salario<br />

consoli<strong>da</strong>m-se na terra" 10 . Uns a<strong>no</strong>s mais tarde, confirmando estas migrações de<br />

artesãos, quer desenvolvi<strong>da</strong>s na sequência de estratégias de exclusão familiar do trabalho<br />

camponês, quer como prática de pluriactivi<strong>da</strong>de indispensável a famílias camponesas<br />

com terra escassa, Charles Sellers alarga-lhes o raio de acção, referindo-se à Maia: "The<br />

men, during the week, live in O<strong>porto</strong> or Braga and work as stonemasons, carpenters or<br />

bricklayers" 11 .<br />

A especialização local contribuía para fornecer uma identi<strong>da</strong>de própria às diversas<br />

terras. Circunscrevendo-se à zona <strong>da</strong> Maia e Bouças, eis o testemunho de um conhecedor<br />

9 "As fiadeiras e dobadeiras de Bouças e <strong>da</strong> Maia, cujo número sommado não deve an<strong>da</strong>r longe de 1:500,<br />

trabalham para as fábricas do Porto, vindo semanalmente á ci<strong>da</strong>de buscando a matéria prima e levando o<br />

produto fabricado. São como que uma dependencia <strong>da</strong>s officinas do Porto, ou operarias destaca<strong>da</strong>s<br />

trabalhando domesticamente". Commissão Central Directora do Inquérito Industrial, Inquerito Industrial<br />

de 1881 - Inquerito Directo - Segun<strong>da</strong> Parte - Visita às Fábricas - Livro Segundo, Lisboa, Imprensa<br />

Nacional, 1881, pp. 43-44.<br />

10 Idem, ibidem, pp. 34-35. O inquérito é ain<strong>da</strong> esclarecedor sobre a "aprendizagem brutal" nesta área.<br />

11 SELLERS, Charles, O<strong>porto</strong>, Old and New, Londres, Herbert E. Harper, 1899, p.25<br />

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