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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 397<br />

Que outra atitude mais sensata para a época poderia o pai, alquilador e<br />

carpinteiro 204 , tomar, senão aquela que era comum fazer-se : enviar o filho para o Brasil,<br />

na esperança de aju<strong>da</strong> posterior que lhe aju<strong>da</strong>sse a compensar as e<strong>no</strong>rmes despesas de 12<br />

bocas para alimentar, fora as do casal ?<br />

José terá sido "imposto" , como então se dizia, para o Brasil na esperança paterna<br />

de, com a sua eventual aju<strong>da</strong>, evitar a dissolução <strong>da</strong> "velha casa". Já eram graves os<br />

problemas domésticos na altura? Ou foi apenas a visão do que viria a acontecer na<br />

reali<strong>da</strong>de ? Não o sabemos. Em todo o caso, o pai terá preparado o filho a ler, escrever e,<br />

sobretudo, contar, já que o filho, além de escrever bem, fazia muitas contas e miudinhas,<br />

a<strong>no</strong>tando de forma contabilística to<strong>da</strong>s as despesas domésticas, pelo me<strong>no</strong>s na fase do<br />

<strong>retor<strong>no</strong></strong>, como <strong>no</strong>s mostram a sua agen<strong>da</strong> de 1891 e o seu livro de operações bancárias.<br />

Escrituração que terá desenvolvido provavelmente <strong>no</strong> Brasil. E aos 14 a<strong>no</strong>s, ei-lo a tirar<br />

passaporte (09.11.1844) e a partir pela barra do Douro, rumo a Pernambuco. A estadia <strong>no</strong><br />

Brasil suscita-<strong>no</strong>s interrogações sem resposta. Há uma vaga informação familiar a<br />

comércio de pa<strong>no</strong>s e fazen<strong>da</strong>s, e quando, na déca<strong>da</strong> de 70 fizer viagens a Portugal, ao<br />

reembarcar dá como profissão a de "negociante": era, então, sócio comanditário <strong>da</strong> firma<br />

Manuel Pinto <strong>da</strong> Silva & Cª, situa<strong>da</strong> na rua do Rosário, nº 110, do Rio de Janeiro, ligação<br />

que ain<strong>da</strong> manteve por algum tempo <strong>no</strong> seu <strong>retor<strong>no</strong></strong>.<br />

Nos a<strong>no</strong>s 60 tor<strong>no</strong>u-se imprescindível aos pais, segundo o testamento destes. Foi<br />

preciso dinheiro para arranjar o casal, e José enviou 400$000 réis portugueses. Pagou-se<br />

a dívi<strong>da</strong> contraí<strong>da</strong> junto de um irmão do pai (279$000) e para isso José enviou mais<br />

418$200, sendo o restante para pagar ain<strong>da</strong> uma outra dívi<strong>da</strong>. Em face destes envios, os<br />

pais fazem-lhe doação <strong>da</strong> casa de 2 an<strong>da</strong>res <strong>da</strong> rua Direita e <strong>da</strong> mora<strong>da</strong> de 1 an<strong>da</strong>r na<br />

calça<strong>da</strong> de S. Francisco (8.7.1864), pois as quantias envia<strong>da</strong>s constituíam o "justo valor<br />

<strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s casas, e talvez para mais, e por isso na<strong>da</strong> tem a partilhar ou conferir dellas<br />

com os mais herdeiros". Mas além disso, pedem-lhe ain<strong>da</strong> mais 100$000 (238$ fracos)<br />

"para remirmos <strong>no</strong>ssas vexações", tudo a<strong>no</strong>tado, para que "o <strong>no</strong>sso filho José não fique<br />

prejudicado em couza alguma em razão dos benefícios que <strong>no</strong>s está fazendo". E desde<br />

1861, que José cedera a favor <strong>da</strong>s irmãs solteiras o aluguer <strong>da</strong>s casas205 .<br />

204 A indicação <strong>da</strong>s profissões do pai de José Maria Pereira, bem como informação sobre outros<br />

ascendentes, encontra-se em SANTOS, Monteiro dos, "Ascendentes de José Régio", Vila do Conde -<br />

Boletim Cultural, Nova série, nº 9,Vila do Conde, C. Municipal, 1990, pp. 47-65. Para o diagrama<br />

familiar, cruzamos a informação aí conti<strong>da</strong>, com as a<strong>no</strong>tações que José Maria Pereira tinha na sua agen<strong>da</strong><br />

sobre o nascimento e baptizado de todos os irmãos, segundo ele próprio, transcritas de registos de seu pai.<br />

Daí o acréscimo de alguns detalhes em relação ao artigo citado, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente as <strong>da</strong>tas de nascimento e os<br />

óbitos dos dois me<strong>no</strong>res, bem como a recuperação do primeiro José. Julgamos, contudo, que há um lapso<br />

nestas indicações: o nascimento de Joaquina deveria ser em 1822 e não em 1821, pois esta <strong>da</strong>ta implicaria<br />

uma gestação de seis meses, incompatível, ao tempo, com a sobrevivência <strong>da</strong> criança.<br />

205 A.M.V.C., Livro de Registo de testamentos, nº 3205, pp. 34-37.

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