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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 209<br />

donde raramente saía, por assoberbamento profissional ou pelos desaguizados frequentes<br />

com os "capoeiras" 36 .<br />

Mas a imagem <strong>da</strong> mulher portuguesa na <strong>emigração</strong> <strong>oitocentista</strong> para o Brasil terá<br />

ficado marca<strong>da</strong> pela célebre passagem de Ramalho Ortigão a propósito dos colo<strong>no</strong>s e do<br />

"cortiço", tantas vezes glosa<strong>da</strong> : "Estas mulheres são escritura<strong>da</strong>s ao chegarem ao Rio de<br />

Janeiro, muitas delas a bordo mesmo dos navios que as transportam. Escolhem-se pelo<br />

aspecto físico: uns preferem as louras, outros as morenas. As mais bonitas são as que se<br />

acomo<strong>da</strong>m mais depressa. Os fazendeiros encomen<strong>da</strong>m-nas do interior aos seus<br />

correspondentes: "Quando chegar o paquete próximo mande-me duas caixas de vinho do<br />

<strong>porto</strong> e uma ilhoa gor<strong>da</strong>, de dezoito a<strong>no</strong>s e olho preto" 37 .<br />

Descendo, porém, à evidência histórica, é necessário matizar a questão, não<br />

generalizando as interpretações mais pessimistas e conferindo lugar à diversi<strong>da</strong>de de<br />

situações que uma <strong>emigração</strong> massiva sempre comporta.<br />

Diga-se, desde já, que a prática dos passaportes familiares oculta de certo modo a<br />

componente feminina integra<strong>da</strong> e dá relevo às situações em que as mulheres partiam<br />

auto<strong>no</strong>mamente e desprotegi<strong>da</strong>s. Assim, uma grande parte do sexo femini<strong>no</strong> partia<br />

adstrita à documentação do familiar mais responsável ou mais velho (o marido, o pai, o<br />

tio, o irmão). Este porme<strong>no</strong>r burocrático alargava-se também a outras situações, como a<br />

de crianças ou de ascendentes idosos. Com o correr do tempo, a facili<strong>da</strong>de de<br />

transportes, os incentivos à imigração familiar por parte do Brasil, a baixa de câmbio<br />

brasileiro que produzia erosão sobre as remessas para a família, a <strong>emigração</strong> familiar vai<br />

aumentando. A crescente participação feminina que se vai verificar tem a ver com a<br />

ampliação deste tipo de <strong>emigração</strong>.<br />

Uma leitura breve dos passaportes, na sua natureza individual ou colectiva, dá<strong>no</strong>s<br />

uma ideia aproxima<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> familiar. Assim, de 1836 até 1851 o número de<br />

pessoas ultrapassava apenas em 5 a 7% o número de passaportes; a partir <strong>da</strong>í até 1878<br />

essa relação sobe para a casa dos 10-19%; nas duas déca<strong>da</strong>s finais do século, é já muito<br />

eleva<strong>da</strong>, passando para a casa dos 20%, atingindo mesmo os 35% em 1889. Nestes<br />

cálculos não entra apenas a mulher como companheira, inclui, frequentemente, os filhos,<br />

36 Idem, Sobrados e Mucambos, 1º volume, 1ª edição, Rio de Janeiro, José Olímpio Editora, 1985, p. 270.<br />

37 In " O Brasil visto a voo de sabiá", As Farpas, tomo X, Lisboa, Clássica Editora, 1992, p. 61. Sublinhese<br />

que o autor tem alguma autori<strong>da</strong>de moral para as descrições sobre o colo<strong>no</strong> <strong>no</strong> Brasil, de que o presente<br />

texto é um dos mais conseguidos. Com efeito, Ramalho Ortigão deslocou-se ao Brasil, tendo podido<br />

verificar a reali<strong>da</strong>de, e lá tinha familiares esclarecidos e bem posicionados socialmente. O seu irmão<br />

Joaquim <strong>da</strong> Costa Ramalho Ortigão, um dos vários membros <strong>da</strong> família que do Porto embarcou para o<br />

Brasil, em 1856 com 13 a<strong>no</strong>s, foi dirigente do Gabinete Português de Leitura e <strong>da</strong> Caixa de Socorros D.<br />

Pedro V, sendo assina<strong>da</strong> por ele o texto incluído <strong>no</strong> Inqúerito Parlamentar de 1873, onde refere a vi<strong>da</strong> <strong>no</strong>s<br />

"cortiços" (pp. 90-99)

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