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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 354<br />

dupla residência, uma <strong>no</strong> campo, outra na ci<strong>da</strong>de, tal como o negociante de grosso trato<br />

tinha <strong>no</strong> Rio de Janeiro o sobrado e <strong>no</strong>s arredores a sua chácara.<br />

Mas é na ci<strong>da</strong>de que surgem as oportuni<strong>da</strong>des de negócio, que se tornam<br />

operativos os mecanismos de atracção de capitais a solicitar o empenhamento dos<br />

brasileiros, quer levando-os a participar nas arrematações cria<strong>da</strong>s pelos negócios públicos<br />

ou nas socie<strong>da</strong>des anónimas, <strong>da</strong>ndo-lhes em troca lugares de prestígio <strong>no</strong>s corpos sociais.<br />

A legislação favorável às socie<strong>da</strong>des anónimas (lei de 22 de Junho de 1867) conseguiu<br />

atrair o capital de muitos "brasileiros", pois, como to<strong>da</strong> a gente, estes eram avessos a<br />

grandes aventuras negociais em que eventuais falências pudessem pôr em risco os seus<br />

cabe<strong>da</strong>is amealhados ao longo de uma vi<strong>da</strong> de sacrifícios e privações. Por isso, <strong>no</strong><br />

<strong>retor<strong>no</strong></strong>, os que continuavam a dedicar-se ao negócio preferiam retomar pessoalmente o<br />

esquema de remessas dos produtos tradicionais entre o Porto e o Brasil com<br />

correspondentes conhecidos, utilizando as suas antiga embarcações à vela, quando muito<br />

compravam um <strong>no</strong>vo veleiro em socie<strong>da</strong>de e mantinham a rotina comercial,<br />

<strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente através <strong>da</strong>s consignações, que lhes <strong>da</strong>va algum lucro e lhes assegurava o<br />

prestígio na praça. Com a livre criação <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des anónimas, dentro <strong>da</strong>s <strong>no</strong>rmas<br />

legais mas independentes do poder administrativo, e a inerente limitação <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de civil ao capital empregue em acções, há um campo maior para a<br />

aplicação de capitais e, neste contexto, muitos "brasileiros" disponibilizam quantias<br />

consideráveis que antes apenas se empregavam em depósitos bancários, títulos de dívi<strong>da</strong><br />

pública e bens de raiz. O surto bancário <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, por exemplo, inscreve-se neste<br />

quadro. Tudo se passa agora de forma mais difusa, <strong>da</strong><strong>da</strong> a transmissibili<strong>da</strong>de dos títulos,<br />

mas a acção dos brasileiros pode ver-se quer nas listas de accionistas, quer <strong>no</strong>s corpos<br />

sociais <strong>da</strong>s companhias, quer <strong>no</strong>s percursos biográficos. É certo que a evolução<br />

conjuntural, com a baixa de câmbio, crises decisivas e múltiplas falências <strong>no</strong> último<br />

quartel do século passado, não será favorável à multiplicação deste tipo de investimentos,<br />

contribuindo para a retracção finissecular <strong>da</strong>s remessas e a crescente apetência pelo<br />

investimento <strong>no</strong> Brasil, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente na sua dívi<strong>da</strong> pública, mas também <strong>no</strong> campo<br />

comercial e <strong>no</strong> industrial. Mas o juro e o dividendo foram sempre os elementos<br />

económicos de maior atracção do "brasileiro" e, por isso, integram <strong>no</strong>rmalmente as<br />

caricaturas literárias de que este foi alvo. Não obstante, muitos dos brasileiros do Porto<br />

tinham iniciativa própria e, por vezes, lideravam mesmo a dinâmica dos interesses<br />

económicos. Bastará lembrar que a Associação Comercial do Porto tinha <strong>no</strong>s seus corpos<br />

gerentes, invariavelmente, vários brasileiros e um deles, o Conde de Silva Monteiro, foi<br />

presidente <strong>da</strong> Direcção <strong>no</strong> difícil período de 1875-1877, tendo a sua influência sido<br />

decisiva para impulsionar obras como a do <strong>porto</strong> de Leixões, o caminho-de-ferro <strong>da</strong>

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