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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 189<br />

que foi atendido pelo pai. Inicia, assim, uma trajectória que o há-de levar a estadias em<br />

diversos países, num exemplar percurso de an<strong>da</strong>rilho, com fixação inicial <strong>no</strong> Rio de<br />

Janeiro (1836), correndo depois o Brasil (S. Paulo, Campos, Baía, Pernambuco), para<br />

voltar ao Porto catorze a<strong>no</strong>s mais tarde (1850), já com <strong>no</strong>me firmado na praça, apesar dos<br />

seus 25 a<strong>no</strong>s. Parte, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte, com uma carregação de vinhos para Angola e<br />

Ci<strong>da</strong>de do Cabo, passa aos Estados Unidos, volta a Portugal (1855), para regressar ao Rio<br />

(1857). Fixa-se, mais tarde, em Bue<strong>no</strong>s Aires (1867), onde se torna um importante<br />

distribuidor de vinho do Porto, passando depois para Paris, em 1875, onde será um dos<br />

organizadores <strong>da</strong> presença portuguesa na Exposição Universal de 18783 .<br />

Poderíamos multiplicar os exemplos de percursos migratórios, entre sucessos e<br />

fracassos, jogando com as tensões ambíguas entre os indivíduos e as famílias, ora<br />

expulsivas, ora de sentido unificador e centrípeto, de acordo com os ciclos familiares e os<br />

acontecimentos de natureza demográfica neles inscritos. Tensões assentes numa<br />

"aspiração difusa à melhoria relativa" e resolúveis tanto na aceitação <strong>da</strong>s pressões<br />

familiares, obedecendo à supremacia <strong>da</strong> lógica colectiva, como na sua recusa, fugindo a<br />

essas pressões, em afirmação individualista, numa diversi<strong>da</strong>de de caminhos que confluem<br />

na <strong>emigração</strong>4 .<br />

Mas se os projectos individuais são condicionados pelas lógicas familiares,<br />

empenha<strong>da</strong>s estas <strong>no</strong> processo de reprodução social, protector mas limitativo, ambas se<br />

diluem, <strong>no</strong> entanto, nas teias mais vastas <strong>da</strong> interdependência que conexiona eco<strong>no</strong>mias<br />

e socie<strong>da</strong>des, isto é, na complexi<strong>da</strong>de do campo histórico. Jogando em dois tabuleiros,<br />

afastados social e geograficamente, o emigrante vê desvanecer-se o seu protagonismo, ao<br />

arrepio <strong>da</strong>s expectativas acumula<strong>da</strong>s, num quadro em que diminui o seu domínio de<br />

informação e cresce a sua dificul<strong>da</strong>de de inserção nas redes dominantes. Integrado em<br />

fluxos de mão-de-obra, crescentemente massificados, o emigrante torna-se, ca<strong>da</strong> vez<br />

mais, peão de lógicas que não domina, de desti<strong>no</strong>s que não controla, emergindo, então, a<br />

natureza social dos fluxos migratórios, dota<strong>da</strong> de uma dinâmica específica.<br />

Como se desenham, <strong>no</strong> tempo e <strong>no</strong> espaço, estes fluxos, como se articulam na<br />

conjuntura? Como se ajusta e evolui o perfil do emigrante na corrente sempre re<strong>no</strong>va<strong>da</strong>?<br />

Para responder a estas questões, e sem pretendermos a redução artificial <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de à<br />

uni<strong>da</strong>de de um modelo, procuraremos desenhar algumas configurações5 do movimento<br />

3 Cf. RIBEIRO, Augusto, ob.cit.<br />

4 Cf. GRIBAUDI, Maurizio, "Stratégies migratoires et mobilité relative entre village et ville", in LE<br />

BRAS, Hervé (apres.), Population, Paris, Hachette, 1985, pp. 387-411.<br />

5 Sobre o conceito de "configuração", enquanto instrumento conceptual mediador entre os de "indivíduo" e<br />

de "socie<strong>da</strong>de", <strong>no</strong> sentido de esbater o antagonismo tradicional e favorecer a percepção <strong>da</strong><br />

interdependência, cf. ELIAS, Norbert, Introdução à Sociologia, Lisboa, Edições 70, 1980, pp. 140-145.

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