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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 255<br />

acontecendo esta última quando diminui a dinâmica económica e social <strong>da</strong>quela e se<br />

torna incapaz de responder às expectativas individuais dos que a procuram, sobrepondo-<br />

se-lhe, então, o "horizonte mítico" e longínquo que gerações sucessivas procuraram.<br />

Naturalmente que, a nível nacional, o pa<strong>no</strong>rama é mais denso, e quando se<br />

verifica a explosão emigratória dos distritos interiores a média de analfabetismo acentuase<br />

pesa<strong>da</strong>mente. Esta dispari<strong>da</strong>de regional na alfabetização também contribui para<br />

explicar a maior visibili<strong>da</strong>de de sucesso emigratório a partir <strong>da</strong> região do grande Porto.<br />

De qualquer modo, um cerca de 40% de analfabetos na corrente portuense era<br />

ain<strong>da</strong> demasiado, sobretudo se acrescentarmos que, em muitos casos, a alfabetização<br />

deveria ser muito débil, resumindo-se talvez à assinatura, embora uma parte soubesse ler,<br />

escrever e contar. Pouco, ou como diria um emigrante de <strong>retor<strong>no</strong></strong>, "minguados<br />

conhecimentos, em todo o caso, um principio, um inicio, uma primeira porta<br />

descerra<strong>da</strong>" 83 . Tudo fruto de um estado de coisas que radica <strong>no</strong> fracasso <strong>da</strong> política<br />

educativa liberal, que autores como Yasemin Soisal e David Strang tipificam como<br />

"construção retórica <strong>da</strong> educação de massas" 84 . Política essa que fez do <strong>no</strong>sso país um<br />

dos pioneiros na legislação compulsiva <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de, ao mesmo tempo que se<br />

mostrava incapaz de realizar eficazmente o sistema educativo, apresentando taxas de<br />

escolarização <strong>da</strong>s mais baixas <strong>no</strong> contexto ocidental.<br />

Com efeito, a Carta Constitucional outorga<strong>da</strong> em 1826 já declarava que "a<br />

instrução primaria é gratuita a todos os ci<strong>da</strong>dãos" (art.145, §30). O "Pla<strong>no</strong> <strong>da</strong> Instrucção<br />

Primária", de 1836, <strong>no</strong> consulado de Passos Manuel, considerando a reforma dos Estudos<br />

como a primeira necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> época actual, tornava livre a criação de escolas<br />

primárias, obrigando-se o Estado a fazer subsistir as escolas cria<strong>da</strong>s e a criar outras em<br />

locais onde pudesse haver frequência de 60 crianças. Com Costa Cabral, através <strong>da</strong> lei <strong>da</strong><br />

Instrução Publica, de 20 de Setembro de 1844, legislava-se o figuri<strong>no</strong> que as escolas<br />

primárias adoptariam durante longo tempo, com a sua divisão em graus, sendo de 1º grau<br />

as escolas já cria<strong>da</strong>s e de 2º grau as cria<strong>da</strong>s <strong>da</strong>í para a frente, além de prever as "escolas<br />

<strong>no</strong>rmais" para formação de professores; além disso, estabelecia a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

frequência escolar para as crianças entre os 7 e os 15 a<strong>no</strong>s que habitassem <strong>no</strong> raio de um<br />

83 SANTOS, J. R. de Oliveira, "Instrucção primaria e <strong>emigração</strong>", O Commercio do Porto, de 4.12.1886.<br />

84 Cf. SOYSAL, Yasemin Nuhoglu e STRANG, David, "Construction of the first massa education systems<br />

in the nineteenth-century Europe", Sociology of Education, 1989, vol. 62, pp. 277-288. Os autores<br />

apresentam uma tipologia, que além do apresentado, inclui: o tipo de "construcção estatal <strong>da</strong> educação",<br />

nas situações de legislação compulsória e implementação efectiva do sistema, ocorrendo em países onde se<br />

verificou uma aliança entre Estado e Igreja nacional (Dinamarca, Suécia, Noruega e Prússia); o tipo de<br />

"construcção social <strong>da</strong> educação", com a expansão do sistema sem grande interferência do Estado, <strong>no</strong>s<br />

países com grandes conflitos sociais e onde não se verificou, para este efeito, a aliança entre Estado e<br />

Igreja (França, Holan<strong>da</strong>, Rei<strong>no</strong> Unido, E.U. ).

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