15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 232<br />

5.6 - Saber fazer e condição social<br />

Um texto oficial de 1846 sobre a <strong>emigração</strong> para o Brasil compara a de origem<br />

portuense com a corrente açoriana. Apresenta esta última como destina<strong>da</strong><br />

fun<strong>da</strong>mentalmente à lavoura, transporte de produtos em carroças e serviço doméstico<br />

para as mulheres, serviços antes desempenhados por escravos, e diz sobre a primeira:<br />

"Até ao an<strong>no</strong> de 1840, poucos eram aquelles que não se dedicavam ao<br />

commercio. Não acontece agora tanto assim, porque parte dos que vão são homens de<br />

oficios mecanicos, principalmente pedreiros e carpinteiros, que com os seus jornaes e<br />

bastante eco<strong>no</strong>mia, poucos são os que ficam <strong>no</strong> Brasil, e já se acostumam a voltar á<br />

patria ao fim de três an<strong>no</strong>s, sendo quasi todos <strong>da</strong>s aldêas <strong>da</strong>s vizinhança do Porto. Os<br />

que se dedicam ao commercio, por sua natureza, tem mais persistencia <strong>no</strong> paiz, sendo<br />

poucas as casas de qualquer negocio <strong>no</strong> Rio de Janeiro, que não tem um ou mais<br />

caixeiros portuguezes, havendo igualmente alguns destes que são chefes de casas de<br />

commercio, e proprietarios de estabelecimentos naquelle pais" 49 .<br />

Se o reducionismo é evidente, como acontece com to<strong>da</strong>s as tentativas de síntese,<br />

não podemos, <strong>no</strong> entanto, analisá-lo em plenitude neste estudo, já que o <strong>no</strong>sso campo de<br />

análise se restringe às condições de parti<strong>da</strong>, e as ocupações aqui declara<strong>da</strong>s podem não<br />

ter seguimento na zona de recepção. Porém, se a ocupação antes <strong>da</strong> parti<strong>da</strong> condicionar a<br />

inserção <strong>no</strong> país de acolhimento, enquanto indicador de um "saber fazer", então temos de<br />

reconhecer uma maior varie<strong>da</strong>de, apesar de, para aquela época, não se desmentir, antes<br />

confirmar o texto acima transcrito nas linhas gerais. Embora haja desvios nítidos,<br />

sobretudo na <strong>emigração</strong> de engajados, com homens de ofício que acabam por ir parar a<br />

serviços agrícolas, o mais natural será que as profissões de origem ten<strong>da</strong>m a manter-se e<br />

até a evoluir, em alguns casos, pois, enquanto prevalecer a produção de tipo artesanal, o<br />

"saber fazer" de qualquer especiali<strong>da</strong>de é naturalmente valorizado, em especial quando a<br />

<strong>emigração</strong> se realiza já numa i<strong>da</strong>de adulta, em que mu<strong>da</strong>r de profissão seria deitar fora<br />

to<strong>da</strong> uma fase de dura e longa experiência.<br />

Infelizmente, a <strong>no</strong>ssa análise <strong>da</strong>s profissões ou "ocupações", como na altura se<br />

dizia, não poderá ter uma perspectiva tão sistemática como a relativa às outras variáveis<br />

constantes dos registos de passaporte. Há alturas em que a ocupação quase não se regista,<br />

apenas surgindo um ou outro caso, como excepção que confirma a regra. Por outro lado,<br />

a referência de ocupação, <strong>no</strong>s períodos em que se intensifica o seu registo, não cobre os<br />

49 "Emigração para o Brasil", Diário do Gover<strong>no</strong>, nº 105 de 6 de Maio de 1846, p. 501.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!