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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 365<br />

Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, por um grupo de capitalistas liderado pelo<br />

"brasileiro" do Porto, José Ribeiro Vieira de Castro129 , que tomou e reformulou a velha<br />

Companhia Industrial de Fafe. Esta deslocação de capitais para fora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de não foi<br />

caso excepcional: neste caso tratava-se de uma acção de fomento em prol <strong>da</strong> terra natal,<br />

mas como assinala M. Filomena Mónica, também se encontram <strong>no</strong> Sul do País várias<br />

fábricas e/ou participações de ex-emigrantes do Norte, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente do Porto130 .<br />

Os exemplos poderiam continuar, sobretudo, se descêssemos ao nível mais<br />

modesto <strong>da</strong>s oficinas, pois, <strong>no</strong> meio artesanal, a estadia <strong>no</strong> Brasil era, em geral, mais<br />

curta e impunha a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> profissional <strong>no</strong> <strong>retor<strong>no</strong></strong>. Compreende-se, assim,<br />

um comentário como o inserto na Correspondência de Portugal :<br />

"Do abençoado Brazil tem-<strong>no</strong>s vindo ultimamente cabe<strong>da</strong>l e alguns homens<br />

activos e emprehendedores, que reservaram parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para a virem empregar em<br />

utili<strong>da</strong>de sua e de seu paiz. D'antes vinha só dinheiro. Quem o trazia, ou vinha para as<br />

Cal<strong>da</strong>s, ou passar o inver<strong>no</strong> <strong>no</strong> leito. Eram vi<strong>da</strong>s exhauri<strong>da</strong>s pelo trabalho. Não tinham<br />

mais que <strong>da</strong>r. Hoje a rapidez e a facili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s communicações transformaram tudo.<br />

Vão-se buscar á America habitos e habilitações de trabalho, e que só a necessi<strong>da</strong>de<br />

longe do ninho pater<strong>no</strong> sabe ensinar. Algumas casas importantes de Lisboa e Porto,<br />

assim como algumas <strong>da</strong>s emprezas modernas, são administra<strong>da</strong>s por individuos que<br />

iniciaram a sua carreira <strong>no</strong> Brazil. " 131<br />

Naturalmente só a multiplicação de estudos mo<strong>no</strong>gráficos <strong>no</strong>s poderão permitir<br />

avançar para lá <strong>da</strong> dimensão casuística do investimento directo na indústria por parte dos<br />

"brasileiros". No entanto, não é fácil essa investigação, entre outros obstáculos, pela<br />

indefinição de papéis entre produtor e intermediário, por essa altura, existindo "fábricas"<br />

que eram sobretudo (e às vezes exclusivamente) centros de distribuição de produtos, não<br />

tendo quaisquer operários ou equipamentos em laboração e dependendo exclusivamente<br />

de produção artesanal e domiciliária, e, pelo contrário, vislumbram-se lojas de comércio<br />

que tinham ao fundo do quintal pequenas uni<strong>da</strong>des produtivas. Assim, <strong>no</strong>s negociantes<br />

129 Embora natural de Fafe, J.R. Vieira de Castro é um dos muitos exemplos cujo tirocínio comercial se fez<br />

<strong>no</strong> Porto, numa casa de ferragens. Embarca em 1864 (passaporte 1560 de 9 de Setembro), com 21 a<strong>no</strong>s,<br />

retornando por 1870 ao Porto, tornando-se accionista e empregado dos "carris de ferro", aonde chegou a<br />

Presidente. Note-se que esta companhia era completamente domina<strong>da</strong> por "brasileiros", pois para além de<br />

accionistas e administradores, empregava grande número de retornados me<strong>no</strong>s endinheirados. Consta que<br />

para isto muito contribuía o facto de exigir seis meses de aprendizagem inicial não remunera<strong>da</strong>, facto que<br />

só estava ao alcance de filhos de família ou de indivíduos que possuíssem algum capital para se poderem<br />

sustentar durante esse período. Sobre Vieira de Castro, e, em geral, sobre o papel dos brasileiros numa vila<br />

de província, cf. o sugestivo livro de MONTEIRO, Miguel, Fafe dos "brasileiros" (1860-1930) -<br />

Perspectiva histórica e patrimonial, Fafe, ed. de autor, 1989.<br />

130 Ob.cit.<br />

131 Cit. por CARVALHO, Augusto de, O Brazil - Colonisação e Emigração, Porto, Imprensa Portugueza,<br />

1876, pp. 290-291.

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