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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 378<br />

meados do século passado, numa ocasião em que a Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia do Porto<br />

estava em dificul<strong>da</strong>des de tesouraria e se faziam os preparativos para uma subscrição<br />

junto <strong>da</strong> colónia portuguesa <strong>no</strong> Brasil, recebeu ela uma boa <strong>no</strong>tícia: o legado de João<br />

Teixeira Guimarães (1784-1857), natural <strong>da</strong> rua <strong>da</strong>s Taipas, embarcado para o Rio de<br />

Janeiro aos 12 a<strong>no</strong>s (partira a 2 de Agosto de 1896), e que agora deixava uma fortuna de<br />

500 contos de réis à Santa Casa, instituição muito próxima <strong>da</strong> rua em que nascera e a<br />

quem solicitava uma sepultura e uma missa diária162 . Mas os fundos ingleses, as apólices<br />

brasileiras, os prédios deveriam ser leiloados e convertidos em dinheiro, do qual se<br />

retirava aquele valor para aplicar em apólices de dívi<strong>da</strong> pública brasileira, a doar à Santa<br />

Casa, que as não devia alienar mas tão só dispor do juro respectivo, para aplicar nas<br />

enfermarias do seu Hospital e <strong>no</strong>s seus estabelecimentos de cari<strong>da</strong>de. Relativamente aos<br />

seus escravos concedia-lhes uma alforria sinuosa: livres à sua morte, deveriam servir<br />

como em cativeiro até ca<strong>da</strong> um ganhar 200$000 réis, quantia a reverter para as obras de<br />

cari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Senhora <strong>da</strong> Candelária, e só então usufruiriam de plena liber<strong>da</strong>de. Depois de<br />

algumas lembranças a amigos, afilhados e 400$000 para as obras <strong>da</strong> Senhora <strong>da</strong><br />

Candelária, o remanescente, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente prédios e prazos <strong>no</strong> Porto, ficava para três<br />

sobrinhos de Portugal163 .<br />

Ao longo do tempo, contam-se umas largas dezenas de benfeitores <strong>da</strong> Santa Casa<br />

que vieram do Brasil ou que lá faleceram. Em muitos casos, são peque<strong>no</strong>s legados ou<br />

remanescentes de herança que revertem a favor <strong>da</strong> Misericórdia, deixando os testamentos<br />

entrever alguns porme<strong>no</strong>res <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>: são indivíduos <strong>no</strong>rmalmente solteiros ou viúvos,<br />

que viveram longo tempo <strong>no</strong> Brasil, desligando-se <strong>da</strong> família, e que à hora <strong>da</strong> morte<br />

escolhem uma instituição poderosa, com capaci<strong>da</strong>de de sobrevivência que assegure, ao<br />

longo do tempo, os sufrágios pela suas almas. Noutros casos, trata-se de verbas com<br />

algum significado, atribuí<strong>da</strong>s por "brasileiros" endinheirados, emergindo o legado <strong>da</strong><br />

Misericórdia de uma constelação de distribuições que se repartem por instituições de<br />

Portugal e do Brasil, além de dádivas aos familiares. Veja-se, por exemplo, neste último<br />

tipo, o caso de um "brasileiro" muito conhecido, Manuel Pinto <strong>da</strong> Fonseca, referenciado<br />

como um importante "negreiro", deportado pelo gover<strong>no</strong> brasileiro por infringir a<br />

Santa Casa de Misericórdia do Porto, desde 1 de Janeiro de 1912 a 30 de Junho de 1913, Porto, 1913,<br />

mapa anexo à pág. 540. Este capital tinha sofrido um incremento assinalável em 1911-12, fruto <strong>da</strong> herança<br />

de Manuel José Rodrigues Semide, mais um "brasileiro", generoso benfeitor <strong>da</strong> Santa Casa, que legou a<br />

sua fortuna para a construção do sanatório a que foi <strong>da</strong>do o seu <strong>no</strong>me.<br />

162 Cf. "Exequias na Igreja <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericordia desta Ci<strong>da</strong>de pela Alma do snr. João Teixeira<br />

Guimarães, fallecido <strong>no</strong> Rio de Janeiro", C.P., de 7 de Fevereiro de 1859. Cf. também Relatório... de<br />

1858. Recorde-se que o orçamento anual <strong>da</strong> Santa Casa, pelos meados do século, ron<strong>da</strong>va os 50 contos.<br />

163 A.S.C.M. P., Livro de testamentos, nº 30, p. 244

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