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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 211<br />

feminina, vendo nela um dos sinais <strong>da</strong> desordem crescente <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia social<br />

portuguesa, pois, "a <strong>emigração</strong> de famílias só se percebe tendo por causa a necessi<strong>da</strong>de;<br />

não, assim, a de homens isolados que podem emigrar obedecendo a vários outros<br />

motivos" 39 .<br />

Até 1851, isto é, até ao momento <strong>da</strong> primeira explosão migratória que se relaciona<br />

com o início <strong>da</strong> prática de engajamento <strong>no</strong> Porto, a <strong>emigração</strong> feminina raramente chegou<br />

às 100 uni<strong>da</strong>des, ficando-se pelos 3 a 5% <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> total, mostrando que não se<br />

inseria <strong>no</strong> modelo <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> tradicional. A partir <strong>da</strong>quela <strong>da</strong>ta, dá um salto para o<br />

dobro, atingindo o apogeu em 1855, com 779 mulheres a embarcarem, representando<br />

10% do fluxo. Há depois uma fase de decréscimo quantitativo, mas a participação<br />

relativa oscila quase sempre em tor<strong>no</strong> dos 10%. No final dos a<strong>no</strong>s 70, esta participação<br />

volta a subir gradual mas decisivamente, de forma que, a partir de 1889, já se situa <strong>no</strong><br />

nível dos 20%. Na déca<strong>da</strong> final, a <strong>emigração</strong> feminina do Porto flui na casa do milhar,<br />

tendo atingido o total de 1922 mulheres <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1891, embora o número relativo mais<br />

elevado seja o de 1896 com 30%.<br />

Como veremos nas alíneas seguintes, ao analisarmos o estado civil e as i<strong>da</strong>des,<br />

este acréscimo <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> feminina tem uma grande componente infantil, isto é, tratase,<br />

em grande parte de uma <strong>emigração</strong> passiva, processa<strong>da</strong> por acompanhamento familiar,<br />

justificando-se, assim, a frase que Sampaio Bru<strong>no</strong> utilizou para caracterizar as suas<br />

impressões sobre a <strong>emigração</strong> finissecular : "Hoje vae tudo, marcha a família inteira" 40 .<br />

A <strong>emigração</strong> familiar, com a parti<strong>da</strong> em conjunto, era uma prática mais corrente<br />

<strong>no</strong>s finais do século, como já o fora na déca<strong>da</strong> de 50, bastante por incentivo <strong>da</strong>s políticas<br />

de atracção de mão-de-obra para as plantações, como foi o caso do Estado de S. Paulo<br />

que financiou este tipo de deslocação. Com mais encargos, me<strong>no</strong>s predisposta a correr<br />

riscos e ao espírito aventureiro, mais "pesa<strong>da</strong>" a diversos níveis para tentar fugas e<br />

subverter contratos, a família era uma garantia de estabili<strong>da</strong>de para o empregador.<br />

Mas não podemos esquecer a componente familiar <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> livre, sem<br />

contratos prévios e destina<strong>da</strong>, <strong>no</strong>rmalmente, aos mercados de trabalho urba<strong>no</strong>s. Nestes<br />

casos, o reagrupamento familiar processava-se por fases, em que o homem partia<br />

primeiro, tentava resolver os problemas que deixava para trás, pagando dívi<strong>da</strong>s, por<br />

exemplo, e criando depois as condições para chamar os familiares. Tratava-se de uma<br />

39 MARTINS, Oliveira, Fomento Rural e Emigração, Lisboa, Guimarães & Cª Editores, 1956, p. 227<br />

40 BRUNO, O Brasil Menthal, Porto, Liv. Chardron, 1899, p. 411. Nos inícios do século XX, a <strong>emigração</strong><br />

familiar de extracção rural será ain<strong>da</strong> mais intensa, particularmente do Norte Interior e Beiras. O caso mais<br />

extremo é o de Bragança, onde, entre 1909-1914, a <strong>emigração</strong> feminina representa 47% do total. A este<br />

respeito, cf. CARQUEJA, Bento, O Povo Português - aspectos sociais e económicos, Porto, Livraria<br />

Chardron, 1916, p.398.

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