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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Nas interpretações de raiz neo-marxista, a <strong>emigração</strong> surge como um<br />

movimento <strong>da</strong> força de trabalho, com origem em formações sociais periféricas em<br />

direcção às formações centrais36, num processo de estreita união com o "exército de<br />

reserva" de mão-de-obra industrial e a internacionalização <strong>da</strong>s relações de<br />

produção37 .<br />

Estes enquadramentos macro-teóricos, que tendem a considerar o migrante<br />

"como um agente passivo perante as circunstâncias, empurrado e aspirado por<br />

forças económicas ou sociistóricas, que não controla" 38 , raramente <strong>no</strong>s dão conta <strong>da</strong><br />

condição social do migrante, "naturalizando" mesmo essas condições de vi<strong>da</strong>,<br />

marca<strong>da</strong>s pela transitorie<strong>da</strong>de e pela precari<strong>da</strong>de, pelo isolamento, pela<br />

desvalorização e desqualificação profissionais, pelo facto de ser um "homem dividido<br />

entre dois mundos". Muito me<strong>no</strong>s explicam, como sublinha Goldey, o papel<br />

desempenhado pela "escolha", desde o modo de emigrar aos processos de decisão, ao<br />

desti<strong>no</strong>, à avaliação <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des, às expectativas que possui39. Por isso,<br />

merecem relevo as micro-análises sobre indivíduos, grupos de emigrantes ou<br />

comuni<strong>da</strong>des de origem e de desti<strong>no</strong>, quer <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> psicologia e <strong>da</strong> sociologia40 (representações, integração, conflitos, mi<strong>no</strong>rias), quer <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> antropologia41 ,<br />

muitos destes integrando a migração na abor<strong>da</strong>gem global <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

camponesas e sua especifici<strong>da</strong>de42 , na linha teórica de Tchaya<strong>no</strong>v43 e seus<br />

desenvolvimentos. Inseri<strong>da</strong> neste tipo de estudos ou auto<strong>no</strong>mamente, tem vindo a<br />

ganhar importância a problemática <strong>da</strong> família na migração, quer como foco de<br />

atenção na região de origem, quer <strong>no</strong>s processos de a<strong>da</strong>ptação e consoli<strong>da</strong>ção nas<br />

áreas de recepção, bem como <strong>no</strong>s seus processos de reorganização face à condição<br />

migrante. 44<br />

Um aspecto durante muito tempo foi negligenciado nas análises migratórias -<br />

a migração de <strong>retor<strong>no</strong></strong>, pois, <strong>no</strong>rmalmente, era assumido como de fraca expressão<br />

36 Para um aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s <strong>no</strong>ções de centro, periferia e semi-periferia, cf. WALLERSTEIN,<br />

Immanuel, The Modern World-System - capitalist agriculture and the origins of the european worleco<strong>no</strong>my<br />

in the sixteenth century, New York, Academic Press, 1974.<br />

37 Cf. RODRIGUEZ, Manuel Montalvo, "Imperialismo y Emigracion", in PEREZ, Jose Cazorla, ob.<br />

cit., pp.53-63.<br />

38 GOLDEY, P., ob.cit., p. 534.<br />

39 Idem, ibidem, p. 537.<br />

40 Cf., por exemplo, ROCHA-TRINDADE, M. Beatriz, Immigrés Portugais, Lisboa, ISCSPU, 1973;<br />

ou NETO, Félix, ob.cit.<br />

41 Para o caso português, cf., por exemplo, BRETTELL, ob.cit.; BRANDÃO, M.F., ob.cit.;<br />

GOLDEY, Patrícia, "Migração e relações de produção : a terra e o trabalho numa aldeia do<br />

Minho,1876-1976", Análise Social, nºs 77-79, 1983, p.995-1021.<br />

42 Cf. MENDRAS, Henri, Socie<strong>da</strong>des Camponesas, Rio de Janeiro, Zahar, 1978. Do mesmo autor, La<br />

Fin des Paysans, Paris, Babel, 1992.<br />

43 Cf. TCHAYANOV, A.V., "Teoria dos sistemas económicos não capitalistas (1924)" (com<br />

apresentação de M. Villaverde Cabral), Análise Social, nº 46, 1976, pp. 477-502.<br />

44 Para uma recensão deste tipo de estudos, cf. DUMON, W.A., "Family and Migration",<br />

Internacional Migration, vol. XXVII, nº 2, 1989, pp. 251-270.<br />

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