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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 386<br />

de alienados que tem o seu <strong>no</strong>me. À crítica e ao sarcasmo na imprensa sucedeu a<br />

hagiografia. Assim, o Conde de Ferreira, um "brasileiro" dos tempos coloniais e dos<br />

primeiros a<strong>no</strong>s do Império, transformou-se num caso paradigmático a vários níveis, cuja<br />

trajectória importa referenciar, ain<strong>da</strong> que muito brevemente 182 .<br />

A condição familiar de parti<strong>da</strong> de Joaquim Ferreira dos Santos é uma ilustração<br />

típica dos mecanismos de reprodução social <strong>no</strong> Noroeste português e dos seus<br />

dispositivos de distribuição ocupacional. Nascido a 4 de outubro de 1782, é o quinto<br />

filho de um casal de lavradores de Campanhã, então couto exterior à ci<strong>da</strong>de. Se o filho<br />

mais velho assume o património <strong>da</strong> família, o segundo desti<strong>no</strong>u-se a padre, função que<br />

também lhe estava reserva<strong>da</strong>, mas <strong>da</strong> qual abdicou para seguir a carreira comercial.<br />

Caixeiro <strong>no</strong> Porto, em casa de familiares, parte com carta de recomen<strong>da</strong>ção para o Rio de<br />

Janeiro, por volta de 1800. Desde cedo ascendeu a negociante estabelecido, para o que<br />

contribuíam as consignações que o parente do Porto (Carneiro Geraldes) lhe enviava.<br />

Esta linha de comércio mantê-la-á sempre, distribuindo os produtos recebidos,<br />

procedendo às carregações de volta, num processo em que se cobravam mutuamente<br />

comissões que oscilavam entre os 4 a 6%. Acrescentará ain<strong>da</strong> outros correspondentes,<br />

especialmente em Lisboa. Para o Brasil, segue <strong>da</strong>qui vinho, sal, chapéus, utensílios de<br />

ferro e ador<strong>no</strong>s; do Brasil envia açúcar, aguardente, couros e pequenas quanti<strong>da</strong>des de<br />

café e arroz.<br />

Joaquim tor<strong>no</strong>u-se, assim, num elo mais dessa vasta rede comercial de<br />

predominância alimentar que unia Portugal ao Brasil. Mas não ficou por aí. Inserido<br />

numa eco<strong>no</strong>mia de plantações, com ramificações e solicitações muito diversas,<br />

participará também do tráfico de escravos, transformando-se num elemento de rotação<br />

desses dois produtos que faziam o "grosso trato" de então, na costa brasileira: fornecer<br />

escravos aos senhores de engenho e receber as suas produções de açúcar. Isto implicou o<br />

seu direccionamento para África, activando os mecanismos <strong>da</strong> consignação neste sentido,<br />

estabelecendo aí a sua rede de correspondentes. Chitas, ferragens, aguardente, pólvora,<br />

espingar<strong>da</strong>s e diversas miudezas são os produtos que envia; de lá recebe escravos. Entre<br />

182 A frequência dos arquivos permitiu-<strong>no</strong>s encontrar e identificar um núcleo de livros comerciais do<br />

biografado, disseminados por entre outros que em na<strong>da</strong> se relacionavam, num depósito do Arquivo do<br />

Hospital Geral de S. António, graças à disponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> respectiva bibliotecária, D. Maria José, a quem<br />

agradecemos. Tratava-se, <strong>no</strong> entanto, de um fundo residual, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as lacunas existentes e a percepção de<br />

que haveria muito mais, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as referências inscritas <strong>no</strong>s livros achados. De qualquer modo foi a ponta <strong>da</strong><br />

mea<strong>da</strong> que <strong>no</strong>s tem levado a constituir um "dossier" volumoso, desde os registos paroquiais, testamentos e<br />

documentação impressa, que <strong>no</strong>s permitirá esboçar uma biografia de maior fôlego, processo já em<br />

desenvolvimento. Neste sentido, não podemos deixar de agradecer também ao sr. José Ferreira dos Santos,<br />

sobrinho-trineto do Conde de Ferreira, as informações e papela<strong>da</strong> que <strong>no</strong>s disponibilizou para consulta.<br />

Numa primeira abor<strong>da</strong>gem, cf. ALVES, Jorge Fernandes, "Percursos de um brasileiro do Porto - o Conde<br />

de Ferreira", Revista <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras - História, II série,vol. IX, Porto, 1992, pp. 199-213.

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