15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 376<br />

Pinto de Sousa, que, subitamente enriqueci<strong>da</strong> pela morte <strong>da</strong>quele <strong>no</strong> Brasil, man<strong>da</strong><br />

construir um escola para o sexo femini<strong>no</strong>, mobilando-a e acrescentando uma gratificação<br />

para a professora oficial. 155<br />

A exemplo de muitos emigrantes de <strong>retor<strong>no</strong></strong>, construir uma escola é uma <strong>da</strong>s<br />

últimas vontades de José <strong>da</strong> Silva Carneiro, de Fornelo (Vila do Conde), que exprime o<br />

desejo de "contribuir quanto possa, nas forças <strong>da</strong> minha pequena fortuna para o<br />

desenvolvimento intelectual e moral do homem, e sendo para mim de fé que só há para<br />

isso um meio eficaz, que é a instrucção, mas instrucção bem intendi<strong>da</strong>, que prepare o<br />

homem dignamente para preencher na socie<strong>da</strong>de o lugar que lhe pertence, ensinando-o a<br />

conhecer os seus deveres pelo uso <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua consciencia e <strong>da</strong> sua razão".<br />

Nesse sentido deixava 50 acções do Banco Maranhão, <strong>no</strong> Brasil, para com o seu produto<br />

se construir uma casa em Fornelo, com capaci<strong>da</strong>de para escola primária de dois sexos, <strong>no</strong><br />

caso de, à hora do seu falecimento, ele próprio ain<strong>da</strong> a não ter construído, devendo o<br />

restante do legado ser aplicado em títulos de dívi<strong>da</strong> pública, de modo a financiar o<br />

aprovisionamento <strong>da</strong> escola e o recrutamento dos professores156 .<br />

Sublinhe-se, apenas, que esta inclinação para a construção de escolas ou para o<br />

apoio à educação <strong>da</strong>s primeiras letras era alvo de alguma contestação social, embora<br />

houvesse espíritos mais "iluminados" que a defendiam e incentivavam, alguns dos quais<br />

se organizavam em socie<strong>da</strong>des promotoras <strong>da</strong> educação. No entanto, vejam-se as queixas<br />

na imprensa de um emigrante que, com os seus contributos e a colecta que realizou junto<br />

de amigos, conseguiu reparar a igreja paroquial e construir a casa para a escola, mas<br />

defronta-se com o pároco local que usa e abusa "<strong>da</strong> cadeira parochial para fazer a<br />

apoteose <strong>da</strong> ig<strong>no</strong>rância", brandindo as estatísticas <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de e declarando que o<br />

"analphabetismo é um bem, e a instrucção, pelo contrario um grandissimo mal". Na<strong>da</strong><br />

tinha o emigrante a obstar contra as ditas opiniões, mas não podia aceitar que este<br />

"apostolo <strong>da</strong> ig<strong>no</strong>rancia" tivesse sido <strong>no</strong>meado "delegado parochial - encarregado,<br />

portanto, de velar pela regulari<strong>da</strong>de e bom serviço <strong>da</strong>s escholas primarias <strong>da</strong> freguezia"<br />

157 .<br />

Este apoio à construção <strong>da</strong>s escolas por parte <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> do Brasil continuará a<br />

ser importante, mesmo <strong>no</strong> século XX, não só em Portugal, como <strong>no</strong> Brasil, <strong>no</strong> contexto<br />

do movimento associativo158 .<br />

155 COSTA, D. António, No Minho, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874, pp. 293-300.<br />

156 A.H.V.C., Livro de registo de testamentos, nº 3206, p. 12<br />

157 Cf. SANTOS, J.R. de Oliveira, "Ain<strong>da</strong> a <strong>emigração</strong> e a instrucção primaria", C.P., de 8 de Janeiro de<br />

1887.<br />

158 Cf. SIMÕES, Nu<strong>no</strong>, ob.cit., p.67-73.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!