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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

<strong>da</strong>s Províncias Ultramarinas para <strong>porto</strong>s que não fossem <strong>da</strong> Europa ou de Domínios<br />

Portugueses, isto é, visava directamente os <strong>porto</strong>s america<strong>no</strong>s, em especial os do Brasil,<br />

embora na apresentação também se referissem a Guiana e a América inglesas22 .<br />

Ao exigir uma clara subi<strong>da</strong> de exigência na quali<strong>da</strong>de dos navios que<br />

transportassem passageiros a uma frota antiqua<strong>da</strong>, rotina<strong>da</strong> <strong>no</strong> transporte de escravos e de<br />

mercadorias, ao lado <strong>da</strong> considerável caução em dinheiro, Sá <strong>da</strong> Bandeira não apostava<br />

numa medi<strong>da</strong> avulsa. O facto de tais exigências não serem uma medi<strong>da</strong> genérica, mas<br />

visarem especialmente o Brasil e outros países <strong>da</strong> América, mostra que o mais importante<br />

seria mu<strong>da</strong>r a direcção do fluxo migratório - tratava-se de um pla<strong>no</strong>, ou melhor, de um<br />

conjunto de ideias, aparentemente pouco sistematizado mas voluntarioso, de construir<br />

<strong>no</strong>vos "brasis" na África portuguesa, obsessão que sempre emerge quando Sá <strong>da</strong> Bandeira<br />

se responsabiliza por pastas como a <strong>da</strong> Marinha ou do Ultramar23 . Além deste projecto,<br />

poderíamos indexar a tal pla<strong>no</strong> outras medi<strong>da</strong>s, como o celebrado decreto de 10 de<br />

Dezembro de 1836, que proclama a abolição do tráfico <strong>da</strong> escravatura <strong>no</strong>s domínios<br />

portugueses, e cujo prólogo explicita o pla<strong>no</strong> africanista do Setembrismo, que acusa o<br />

esquecimento anterior <strong>da</strong>s possessões portuguesas em detrimento do Brasil, recor<strong>da</strong> a<br />

destruição dos engenhos de açúcar em S. Tomé para evitar a concorrência com os<br />

brasileiros, lembra o exemplo <strong>da</strong> colónia do Cabo <strong>da</strong> Boa Esperança, põe em evidência a<br />

mão-de-obra existente e defende a colonização dos territórios sob alça<strong>da</strong> portuguesa por<br />

europeus, com a necessária exportação de capitais. Mas as limitações do decreto são<br />

evidentes e os seus objectivos óbvios: proíbe a exportação por mar ou terra de escravos <strong>no</strong>s<br />

domínios portugueses (art.1º), proíbe a importação por mar (art. 2º), mas abre a excepção,<br />

embora condiciona<strong>da</strong> a determinado número, para os colo<strong>no</strong>s que importarem ou<br />

exportarem escravos de um domínio português para outro <strong>no</strong> continente ou ilhas africanas<br />

22 Ibidem, pp. 164-166.<br />

23 Já em 1839, Sá <strong>da</strong> Bandeira fora o promotor <strong>da</strong> transferência de portugueses que se achavam descontentes<br />

ou abandonados à miséria <strong>no</strong> Rio de Janeiro, <strong>da</strong>ndo ordem ao consulado para remeter os que quisessem para<br />

Angola, fretando o gover<strong>no</strong> o bergantim "Valeroso" para o efeito. Um total de 139 portugueses respondem à<br />

chama<strong>da</strong>, anuncia<strong>da</strong> em jornais. Cf. Periódico dos Pobres <strong>no</strong> Porto, nºs 110 de 10 de Maio, 114 de 15 de<br />

Maio, 126 de 30 de Maio e 130 de 3 de Junho de 1839 ( traz a lista dos que partiram). Sobre esta experiência<br />

traumática, diz uma testemunha:"Aqueles muitos centos d'infelizes, dos que acreditaram <strong>no</strong>s <strong>no</strong>velleiros que<br />

lhes apresentavam a Africa como um eldourado, alli aportaram, e dentro de seis mezes talvez não existisse<br />

uma decima parte, tendo os outros morrido, victimas <strong>da</strong>s febres, do desconforto, o mais trivial que não<br />

existia; os que foram para os presídios do interior lá morreram miseravelmente, e os que assentaram praça<br />

de sol<strong>da</strong>dos, a que a necessi<strong>da</strong>de os obrigara foram morrer nas enxergas dos hospitais". Cf. SEIXAS,<br />

António José, A Questão Colonial Portuguesa em Presença <strong>da</strong>s Condições de Existência <strong>da</strong> Metrópole,<br />

Lisboa, Typographia Universal, 1881, p. 32. Mais positiva será será a parti<strong>da</strong>, em 1848, de uma <strong>no</strong>va remessa<br />

de portugueses que saem em consequência <strong>da</strong> "Revolta <strong>da</strong> Praia" e se dirigem para o Sul de Angola, <strong>da</strong>ndo<br />

origem à colónia de Moçamedes. Cf. descrição, por um colo<strong>no</strong>, <strong>da</strong> parti<strong>da</strong> e chega<strong>da</strong> dos dois navios<br />

("Douro" e "Tentativa Feliz"), in P.P.P, nº 282 de 28.11.1849, pp. 2031/2.<br />

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