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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 242<br />

5.9). Para o a<strong>no</strong> de 1876, são quase 1400 dívi<strong>da</strong>s regista<strong>da</strong>s, com um capital mutuado<br />

próximo dos 320 contos de réis. No conjunto, podemos dizer que 1 em ca<strong>da</strong> 4 fogos<br />

assume um dívi<strong>da</strong> média de 228$000 réis, embora a desci<strong>da</strong> ao nível <strong>da</strong> freguesia revele<br />

uma grande dispersão, com algumas a terem um "ratio" de endivi<strong>da</strong>mento superior a 40%<br />

(veja-se <strong>no</strong>s casos de Lamelas e S. Romão do Coronado, quase a atingirem os 50%).<br />

A um salário de 200 réis60 em trabalhos rurais, essa dívi<strong>da</strong> média corresponderia<br />

a 1140 dias de trabalho, o que dá uma ideia <strong>da</strong> carga financeira que representava e<br />

explica a insolvência de muitas famílias, sobretudo depois que a lei hipotecária<br />

simplificou e acelerou o processo, legitimando moralmente o manifesto por parte do<br />

credor, pois este corria o risco de pagar multa se o não fizesse. Quebrava-se, assim, a<br />

tradição <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s por gerações, ou a prática <strong>da</strong>s confrarias de concederem ao mesmo<br />

devedor sucessivos empréstimos inferiores a 10$000, como forma de se eximirem ao<br />

manifesto. A simples quebra <strong>no</strong> pagamento dos juros permitia accionar rapi<strong>da</strong>mente a<br />

hipoteca. O mesmo quadro poderia ser ilustrado, a partir dos <strong>da</strong>dos disponíveis, para a<br />

zona <strong>da</strong> Maia ou Póvoa de Varzim61 .<br />

Processos contínuos de "arredon<strong>da</strong>mento" de proprie<strong>da</strong>des, por inclusão de<br />

parcelas anexas, ou estratégias delibera<strong>da</strong>s de alargamento de bens a qualquer preço,<br />

facilitando o endivi<strong>da</strong>mento para promover a execução posterior, tornam-se, então,<br />

vulgares, a partir <strong>da</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s do século passado. Em certas freguesias de S.<br />

Tirso, ain<strong>da</strong> hoje é possível fazer emergir <strong>da</strong> memória dos mais velhos histórias<br />

sucessivas sobre execuções hipotecárias e processos de constituição de grandes<br />

proprie<strong>da</strong>des, sobretudo por parte de "grandes" <strong>da</strong> terra, muitos deles antigos emigrantes<br />

ou seus descendentes, bem como comerciantes e quadros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Porto. É o auge<br />

na formação <strong>da</strong>s "quintas", vulgares em to<strong>da</strong> a região, esses espaços agrícolas ve<strong>da</strong>dos<br />

por altos muros, com uma ou mais residências, e um sobre-investimento que tinha mais a<br />

ver com o prestígio social do que com a rentabili<strong>da</strong>de e a eficácia agrícola62 . Assim, aos<br />

60 Valor indicado para S. Tirso, em 1870. Cf. " Resposta do Gover<strong>no</strong> Civil do Porto", in Primeiro<br />

Inquérito Parlamentar sobre a Emigração Portuguesa... , ob. cit., p. 212.<br />

61 O concelho <strong>da</strong> Maia, em 1861, apresenta 691 conhecimentos de dívi<strong>da</strong>, correspondendo a um capital de<br />

cerca de 215 contos de réis, o que dá uma dívi<strong>da</strong> média de 311$000, embora o "ratio" nº de dívi<strong>da</strong>s/nº de<br />

fogos se fique pelos 17%. O <strong>da</strong> Póvoa de Varzim, em 1876, com 1098 conhecimentos respeitante a um<br />

capital de 190 contos, tem uma dívi<strong>da</strong> média de 173$641, mas aquele "ratio" sobe aos 25%. Para uma<br />

análise a nível inter-distrital, Cf. Ministério dos Negócios <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, Contribuições Directas - estatística<br />

especial, 1877-1905, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905, pp. 205-214. Em 1878, <strong>no</strong> distrito do Porto, a<br />

relação nº de conhecimentos/nº de fogos era de 20%, embora o valor médio <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> ron<strong>da</strong>sse os 459$000<br />

réis, pelo que os valores apresentados <strong>no</strong> quadro para S. Tirso não são exagerados, nem se afastam muito<br />

<strong>da</strong> média distrital.<br />

62 CF. GUIMARÃES, Aveli<strong>no</strong> <strong>da</strong> Silva, A Crise Agrícola Portuguesa, Porto, Typ. de A. J. <strong>da</strong> Silva<br />

Teixeira, 1890. Para tempos recentes, cf. DIAS, Jorge, "Algumas considerações acerca <strong>da</strong> estrutura social<br />

do povo português", Ensaios Et<strong>no</strong>lógicos, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1961, pp. 121-143.

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