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Untitled - Universidade do Minho

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A importância dedicada à alma deriva da crença no além-mun<strong>do</strong>. A morte representava<br />

uma passagem para uma outra realidade, onde a alma repousaria a espera <strong>do</strong> encontro com<br />

Deus. 3 Nesse senti<strong>do</strong>, logo após a morte, o faleci<strong>do</strong> era julga<strong>do</strong> individualmente. Momento<br />

crucial, <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> dessa apreciação dependia a alocação da alma no universo celeste. Porém,<br />

a geografia <strong>do</strong> além-mun<strong>do</strong> comportava três distintos espaços.<br />

Paraíso, inferno e purgatório constituíam-se nos três locais suscetíveis de alocar as<br />

almas durante sua estadia no além-mun<strong>do</strong>. Essa divisão <strong>do</strong>s espaços celestiais foi elaborada no<br />

decorrer <strong>do</strong> tempo. Inicialmente, somente inferno e paraíso constavam entre as possibilidades<br />

<strong>do</strong>s fiéis católicos. Portanto, com a inevitável morte advinha somente duas hipóteses para a<br />

alma <strong>do</strong>s faleci<strong>do</strong>s.<br />

A partir <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> comércio e <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong>s núcleos urbanos, durante<br />

o século XIII, provocan<strong>do</strong> o desenvolvimento da contabilidade, foi possível configurar-se a<br />

premissa de negociar com Deus.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, as mudanças proporcionaram a configuração de um novo espaço celeste<br />

que comportava a mobilidade <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> em direção à sua salvação. 4<br />

Essa nova concepção teológica, que justificava e delineava os elementos referentes ao<br />

purgatório, foi elaborada no decorrer da Idade Média até, atingir a sua forma mais refinada, no<br />

século XVI. 5<br />

Divulgada intensamente a partir <strong>do</strong> Concílio de Trento, a crença no purgatório e a sua<br />

importância como local transitório permitia o favorecimento das almas por meio da interseção<br />

<strong>do</strong>s vivos. 6 As orações e preces auxiliavam aqueles que estavam deti<strong>do</strong>s no purgatório. A<br />

possível interferência <strong>do</strong>s vivos no além-mun<strong>do</strong> incentivava a prática religiosa em distintos locais.<br />

O inglês Cox Macro, de passagem por Lisboa, em 1701, reparou que nas esquinas da cidade<br />

viam-se pinturas que representavam “um homem meti<strong>do</strong> nas Chamas até a cintura com Pater<br />

3 A respeito da crença no encontro com Deus como objetivo último <strong>do</strong>s cristãos ler DELUMEAU, Jean – O apocalipse<br />

revisita<strong>do</strong>. In ARAÚJO, Carlos (Coord.) – O fim <strong>do</strong>s tempos. Conversas com Stephen Jay Gould, Jean Delumeau, Jean-<br />

Claude Carrière, Umberto Eco. Lisboa: Terramar, 1999. p. 64.<br />

4 LE GOFF, Jacques - A Bolsa e a vida. Lisboa: Teorema, 1987. pp. 94-98.<br />

5 DUBY, G. - Ano 1000 ano 2000: na pista de nossos me<strong>do</strong>s. São Paulo: Editora da UNESP, 1998. p. 133.<br />

6 Após a recepção das teses conciliares de Trento massificou-se a crença no purgatório, em Portugal. Sobre a difusão<br />

dessa crença entre os portugueses ler ARAÚJO, Ana Cristina – Morte. In AZEVEDO, Carlos Moreira (Dir.) - Dicionário de<br />

História Religiosa de Portugal. vol. 3. Lisboa: Círculo de Leitores, 2000. p. 272.<br />

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