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Untitled - Universidade do Minho

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A possibilidade de acompanhar seus membros em esquife próprio denotava, portanto, à<br />

Ordem Terceira franciscana maior visibilidade no campo religioso paulistano, pois lhe permitia<br />

demonstrar frente à comunidade o luxo <strong>do</strong> seu aparto fúnebre.<br />

Além <strong>do</strong> acompanhamento, o local de enterro mostrava-se fundamental para garantir a<br />

salvação. A preocupação relacionada com o aspecto transparece no me<strong>do</strong> de morrer em locais<br />

ermos ou no mar, onde as possibilidades de inumação em solo sagra<strong>do</strong> eram quase nulas. Os<br />

mortos sem sepultura eclesiástica entravam para o rol das almas temidas, pois, além de<br />

diminuírem consideravelmente as possibilidades de salvação, poderiam incomodar os vivos<br />

cobran<strong>do</strong> sufrágios para elevação de suas almas.<br />

Nesta perspectiva, o lugar <strong>do</strong>s restos mortais desempenhava um papel importante na<br />

trama da redenção individual. Quanto mais próximo <strong>do</strong>s altares de devoção, maiores as<br />

garantias de abreviar a passagem pelo purgatório. Existiam três formas de sepultamento<br />

eclesiástico: no cemitério, no adro da igreja e no interior desta. Estes lugares distintos refletiam a<br />

hierarquia social entre os vivos.<br />

O cemitério, mesmo que benzi<strong>do</strong> por um pároco, representava a última alternativa para<br />

aqueles que almejavam a felicidade eterna. Diferentemente de Portugal, onde os cemitérios<br />

situavam-se nas proximidades das igrejas, na América portuguesa eles estavam quase sempre<br />

distantes das igrejas e abrigavam indigentes, escravos e pessoas pouco qualificadas. Em São<br />

Paulo, foi inaugura<strong>do</strong> um cemitério, em 1775, muni<strong>do</strong> de capela dedicada a Nossa Senhora <strong>do</strong>s<br />

Aflitos. Apesar da presença de um espaço religioso nos seus limites, o local tornou-se<br />

rapidamente terreno propício para a inumação de indigentes. 1464<br />

Para um cristão, ser enterra<strong>do</strong> no cemitério significava redução das hipóteses de<br />

salvação. Num local onde não ocorriam celebrações de missas, onde as covas facilmente<br />

poderiam ser reviradas por animais, <strong>do</strong>mésticos ou não, enfim, onde o aban<strong>do</strong>no imperava, não<br />

havia possibilidade de um bom descanso nem qualquer dignidade na morte.<br />

Fora das igrejas, os fiéis poderiam ser sepulta<strong>do</strong>s no adro, parte circundante <strong>do</strong> edifício<br />

eclesiástico, ou no interior da construção. O adro equivalia a uma extensão <strong>do</strong> corpo da igreja,<br />

local sagra<strong>do</strong>, deveria ser respeita<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que o interior desta. A inumação no adro<br />

tinha como principais clientes pessoas extremamente pobres, negros e escravos, pois as<br />

1464 Sobre os cemitérios, no século XVIII, em São Paulo ver PAGOTO, Amanda Aparecida – Do âmbito sagra<strong>do</strong> da igreja<br />

ao cemitério público. Transformações fúnebres em São Paulo (1850-1860)..., pp. 62-63.<br />

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