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Untitled - Universidade do Minho

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Diversificadas vestes compunham o arsenal de trajes utilizáveis pelos defuntos. Os<br />

hábitos de São Francisco, de Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo, de Nossa Senhora da Conceição, de<br />

Nossa Senhora da Dor, entre outros faziam parte <strong>do</strong> guarda-roupa mortuário durante o século<br />

XVIII. Também, lençóis brancos ou negros poderiam envolver os defuntos.<br />

A existência de um leque varia<strong>do</strong> de possibilidades de vestes fúnebres não minimizava a<br />

presença de algumas preferências entre os defuntos <strong>do</strong>s séculos XVII, XVIII e início <strong>do</strong> XIX. Em<br />

Sintra, por exemplo, entre 1740 e 1750, 94% <strong>do</strong>s testa<strong>do</strong>res requisitaram as vestes franciscanas<br />

no seu enterro. 37 Os espanhóis também preferiam o hábito franciscano em seus enterros,<br />

chegan<strong>do</strong> a vestir, no começo <strong>do</strong> século XVIII, 71% <strong>do</strong>s faleci<strong>do</strong>s com testamento, em Sevilha. 38<br />

Essa preferência pelo hábito franciscano decorria igualmente na outra margem <strong>do</strong> Atlântico,<br />

destacan<strong>do</strong>-se entre os paulistanos no início <strong>do</strong> século XIX (cf. Livro 3, Cap. 7). 39<br />

Diversos motivos, provavelmente, incentivaram essa relevância na utilização da<br />

mortalha franciscana em diferentes contextos. Inicialmente, ressalta-se a antiguidade <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s<br />

hábitos das ordens mendicantes. Desde final <strong>do</strong> medievo, consolidan<strong>do</strong>-se no século XVI, o<br />

costume de usar os hábitos de São Francisco ou de São Domingos distinguia-se entre outras<br />

vestimentas no momento da inumação. Provavelmente, os citadinos e, posteriormente, os<br />

mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> meio rural a<strong>do</strong>taram tal postura fúnebre. A busca por esses hábitos manifestava-<br />

se devi<strong>do</strong> as benesses espirituais concedidas por diversos Papas, especialmente no início <strong>do</strong><br />

século XVI. 40 Estas indulgências animavam as populações a essa escolha e evidenciavam,<br />

paralelamente, o acolhimento da <strong>do</strong>utrina católica no que se refere aos atos funerários. Outro<br />

37 Sobre os ritos fúnebres e mortalhas em Sintra consultar CARVALHO, David Augusto Figueire<strong>do</strong> Luna de; MOREIRA,<br />

Francisco Manuel Antunes de Matos; ROSA, Maria Luísa Castanho – Atitudes perante a morte e níveis de religiosidade<br />

em Sintra, nos mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII..., 17.<br />

38 Sobre a destacada presença <strong>do</strong> hábito franciscano entre os inuma<strong>do</strong>s espanhóis, durante o século XVIII, ver MARTÍN<br />

GARCÍA, Alfre<strong>do</strong> – Religiosidad y actitudes ante la muerte en la montaña noroccidental leonesa: el concejo de Laciana<br />

en el siglo XVIII..., 162.<br />

39 A propósito dass mortalhas e outros aspectos relaciona<strong>do</strong>s ao bem morrer, na América portuguesa, veja-se REIS,<br />

João José – O cotidiano da morte no Brasil oitocentista. In ALENCASTRO, Luiz Felipe de (Org.) - História da vida<br />

privada. Império: a corte e a modernidade nacional. vol. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. pp. 97-141.<br />

40 A propósito das indulgências concedidas por diferentes pontífices à mortalha franciscana ler GONZÁLEZ LOPO,<br />

Domingo L. – Los comportamientos religiosos en la Galicia del Barroco. Santiago de Compostela: Xunta da Galicia,<br />

2002. pp. 290-291.<br />

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