19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

junto <strong>de</strong> fábricas hesitantes na paralisação, enfrenta as forças policiais. É assim na<br />

<strong>Lisboa</strong> Oci<strong>de</strong>ntal, com os carros eléctricos a serem apedrejados para forçar a a<strong>de</strong>são da<br />

Carris e é assim no Barreiro, centro da tempesta<strong>de</strong>, com a tentativa <strong>de</strong> invasão da CP,<br />

para que também aí o trabalho parasse, ou com os assaltos às proprieda<strong>de</strong>s para roubar<br />

fruta. Estas zonas são ocupadas pela GNR, pela PSP, pela PVDE. No Barreiro, chega-se<br />

a <strong>de</strong>clarar o estado <strong>de</strong> sítio e em <strong>Lisboa</strong> os quartéis entram <strong>de</strong> prevenção.<br />

A 29 <strong>de</strong> Julho, ainda há fábricas a entrar em greve, como a estratégica Central<br />

Tejo, que abastecia energia a boa parte da cida<strong>de</strong>. A paralisação arranca das oficinas e<br />

só não alastra às cal<strong>de</strong>iras porque aí os fogueiros são obrigados ao trabalho.<br />

Datado <strong>de</strong>ste dia, um manifesto do Secretariado do CC do <strong>PCP</strong> incita ao<br />

prosseguimento da greve, reclama aumento geral <strong>de</strong> salários e exorta ao seu<br />

alastramento a todo o país 264 .<br />

A ligação aos serviços secretos ingleses surge, como mero expediente <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

ou não, nalguns <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> grevistas presos pela PVDE. Assim, João Gandara,<br />

apontado como militante comunista no Barreiro, teria dito a um grupo <strong>de</strong> grevistas que<br />

“Esta greve é apenas mais um ou dois dias, pois a Embaixada Britânica, recebeu uma<br />

Comissão <strong>de</strong> Pessoal da CUF e disse-lhe o seguinte: Vão embora <strong>de</strong>scançados, pois se<br />

em dois ou trez dias não lhes resolverem nada, vão pelo campo e hasteiem a ban<strong>de</strong>ira<br />

ingleza e <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong>pois o resto connosco, pois lá irão géneros e dinheiro para vocês e<br />

vão à Quinta do Braamcamp (Socieda<strong>de</strong> Manuel <strong>de</strong> Cortiças) on<strong>de</strong> serão atendidos o<br />

que tem sucedido” 265<br />

Porém, a partir dos últimos dias do mês, os <strong>de</strong>spedimentos compulsivos, as<br />

prisões em larga escala e a mobilização militar para substituir os grevistas indiciam o<br />

recuo do movimento. A 4 <strong>de</strong> Agosto é o próprio Partido Comunista que aconselha a<br />

retomar o trabalho, no que José Gregório vai <strong>de</strong>signar <strong>de</strong> “retirada organizada” 266 ,<br />

dadas as proporções que a repressão vinha assumindo.<br />

No resto do país, a única movimentação <strong>de</strong> vulto é a greve <strong>de</strong> 2000 operários do<br />

calçado em S. João da Ma<strong>de</strong>ira, seguida <strong>de</strong> manifestação maior, mas já numa altura em<br />

que o <strong>PCP</strong> apelara ao recuo na cintura industrial <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

A vaga grevista <strong>de</strong> Julho-Agosto <strong>de</strong> 1943 assumia-se como o mais importante<br />

movimento social da conjuntura <strong>de</strong> <strong>guerra</strong> pelo número <strong>de</strong> operários envolvidos, pela<br />

264<br />

Cf Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português, Em greve e unidos a vitória será nossa, 29 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong><br />

1943, imp., 1 p.<br />

265<br />

IAN/TT, PIDE-DGS, PC 906/43, 5º vol., [Informação] João Francisco Rocha Gandara, [76]<br />

266 IAN/TT, PIDE-DGS, PC 507/42, 2º vol., Cópia <strong>de</strong> carta <strong>de</strong> Alberto..., [24]<br />

100

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!