19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Entre os jovens que conheci no Diário <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> Juvenil estava uma rapariga,<br />

a Lena Rato, <strong>de</strong> 14 a nos, filha <strong>de</strong> comunistas e já militante, que segundo me contou<br />

mais tar<strong>de</strong> terá proposto ao partido o meu recrutamento. Mas foi outro jovem, um ruivo<br />

empertigado, o Luís G., quem sondou explicitamente as minhas disposições no mês em<br />

que fiz 16 anos. (…) Três meses <strong>de</strong>pois fez-me o convite oficial para entrar no Partido,<br />

um convite ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> admoestações quanto ao sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e à<br />

consciência do perigo que a aceitação <strong>de</strong>veria pressupor da minha parte. Deu-me logo<br />

um exemplar do «Se fores preso, camarada», que nos dizia tudo o que nunca<br />

<strong>de</strong>sejaríamos que nos acontecesse… No momento até fiquei assustado, <strong>de</strong> facto aquilo<br />

não ia ser brinca<strong>de</strong>ira, vi passarem na minha mente a perseguição, a prisão, a tortura,<br />

quiçá a morte, mas creio que não <strong>de</strong>i mostras <strong>de</strong> hesitação. E comecei a minha<br />

militância sob o pseudónimo <strong>de</strong> Aníbal” 1716 .<br />

A conversa a que alu<strong>de</strong>m estes militantes representa o momento da a<strong>de</strong>são,<br />

embora muitos <strong>de</strong>les pu<strong>de</strong>ssem vir <strong>de</strong>senvolvendo activida<strong>de</strong>s sob controlo partidário, o<br />

que levava a que, na prática, a que a integração propriamente dita acabasse por se ir<br />

fazendo durante um período mais ou menos longo <strong>de</strong> tempo. De qualquer modo, o seu<br />

carácter formal, a carga simbólica <strong>de</strong> que se revestia, tornava-o solene.<br />

Sérgio Ribeiro que vinha agindo na orla do <strong>PCP</strong> situa à volta da campanha<br />

eleitoral <strong>de</strong> Humberto Delgado, e da fase final da sua licenciatura em economia, o<br />

momento da a<strong>de</strong>são ao partido, não precisando com rigor a data, <strong>de</strong>fine-a, no entanto,<br />

em função da conversa que teve com o funcionário que o abordou para esse efeito:<br />

“(…) comecei a «incorporar-me» no Partido Comunista Português, <strong>de</strong> que não<br />

tenho data concreta para admissão formal, ficando a conversa com o Carlos Aboim<br />

Inglês como o facto relevante e o final <strong>de</strong> 1958, começo <strong>de</strong> 1959 como <strong>de</strong><br />

«incorporação» gradual… no <strong>PCP</strong>” 1717 .<br />

O contacto do responsável do organismo ou do funcionário com o novo<br />

militante, para além <strong>de</strong> selar a a<strong>de</strong>são formal permitia também tomar uma primeira<br />

opinião sobre quem chegava às fileiras do partido.<br />

A consciência <strong>de</strong> classe, aliada a uma mesmo que difusa consciência política, era<br />

<strong>de</strong>terminante no acto <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rir, <strong>de</strong> aceitar a proposta formulada aos candidatos. Mas<br />

nesse processo influíam igualmente factores <strong>de</strong> outra natureza, como as diferentes<br />

sociabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> vizinhança ou as relações familiares, <strong>de</strong> parentesco 1718 .<br />

1716 Ama<strong>de</strong>u Lopes Sabino et allia, À espera <strong>de</strong> Godinho, <strong>Lisboa</strong>, Bizâncio, 2009, p.42<br />

1717 Sérgio Ribeiro, 50 anos <strong>de</strong> economia e militância, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 2008, p. 66<br />

1718 Cf. Paula Godinho, Memórias da resistência rural no sul, Oeiras, Celta, 2001, pp 221-225<br />

723

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!