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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Na verda<strong>de</strong>, senhores juízes, a minha situação aqui, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais oito anos <strong>de</strong><br />

prisão contínua, não é a <strong>de</strong> um réu, é antes a <strong>de</strong> um queixoso. Por isso a minha <strong>de</strong>fesa,<br />

legítima <strong>de</strong>fesa, não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter esta forma <strong>de</strong> acusação” 1766<br />

Eram exemplos <strong>de</strong>stes que se tornavam lendários, passando <strong>de</strong> boca em boca no<br />

interior do partido, contribuindo para cimentar uma cultura <strong>de</strong> resistência que também<br />

entrava pelos tribunais <strong>de</strong>ntro, e ousava tomar a apalavra e inverter os papéis – passar <strong>de</strong><br />

acusado a acusador.<br />

Finalmente, o cumprimento da pena sujeito às ignominiosas “medidas <strong>de</strong><br />

segurança”, procedimento <strong>de</strong>stinado a manter a situação, para lá do período da<br />

con<strong>de</strong>nação, por quanto tempo fosse entendido pelo regime.<br />

Mas, não obstante, toda este sistema repressivo, foi nas prisões que a formação<br />

dos militantes mais se pô<strong>de</strong> realizar, contornando a vigilância dos carcereiros,<br />

recorrendo a mecanismos engenhosos, mas sobretudo, beneficiando, <strong>de</strong>sgraçadamente,<br />

<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> pessoal e <strong>de</strong> tempo para que colectivamente se fossem organizando<br />

essas activida<strong>de</strong>s, sempre enquadradas, no caso dos militantes do <strong>PCP</strong>, pelas respectivas<br />

Organizações Prisionais.<br />

Dentro da prisão, em cada prisão, a constituição <strong>de</strong> uma organização prisional,<br />

dotada <strong>de</strong> direcção própria, respeitando a hierarquia partidária dos elementos <strong>de</strong>tidos,<br />

ramificando-se por cada sala era uma realida<strong>de</strong>, quase tão antiga quanto a existência <strong>de</strong><br />

núcleos <strong>de</strong> comunistas presos, que foi sendo aperfeiçoada, oleando-se os mecanismos <strong>de</strong><br />

ligação ao exterior, isto é, à Direcção do partido, sendo <strong>de</strong>senvolvida fundamentalmente<br />

através das visitas <strong>de</strong> familiares.<br />

Para muitos militantes, a prisão foi um local <strong>de</strong> aprendizagem por excelência –<br />

aprendizagem das primeiras letras, inclusivamente, mas aprendizagem política, dos<br />

fundamentos doutrinários e <strong>de</strong> cultura geral, também – línguas, ciências, história…, a<br />

que se quis conferir as características <strong>de</strong> ambiente formal <strong>de</strong> aprendizagem. Referindo-<br />

se ao Aljube, às salas comuns, Francisco Martins Rodrigues refere:<br />

“Organizávamos a vida colectiva, elegíamos mensalmente a a administração da<br />

comuna, íamos às visitas, repartíamos os lanches recebidos das famílias, tínhamos o<br />

jornal diário (nem sempre), dávamos aulas (<strong>de</strong> elitura, <strong>de</strong> contas, <strong>de</strong> francês, <strong>de</strong><br />

história), apresentávamos as nossas reivindicações ao director da ca<strong>de</strong>ia. E<br />

continuávamos a marchar infindavelmente, mas agora em grupo, discutindo política e<br />

1766 I<strong>de</strong>m, p. 79<br />

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