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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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“Comecei a acreditar no Comunismo assim como as crianças, nas famílias<br />

católicas, acreditam na existência <strong>de</strong> do bom Deus. A minha família acreditava na<br />

União Soviética e acreditava em Marx, apesar <strong>de</strong> ser uma família burguesa e rica. Por<br />

isso mesmo entrei nas Juventu<strong>de</strong>s Comunistas com a mesma naturalida<strong>de</strong> com que os<br />

adolescentes da minha ida<strong>de</strong> faziam a primeira comunhão.<br />

Depois vieram as leituras a fortalecer mais a minha crença. Da mão dos meus<br />

recebi os primeiros livros e revistas sobre a URSS. Mais tar<strong>de</strong>, em edição brasileira da<br />

Calvino, li o Manifesto Comunista, a que se seguiu, se não me engano, o Manual <strong>de</strong><br />

Filosofia <strong>de</strong> Politzer, e outras obras marxistas do género” 1721<br />

Por sua vez, em meio intelectual ou entre os estudantes era frequente uma<br />

origem familiar em que se assinalava a presença ou a memória <strong>de</strong> velhos republicanos,<br />

o que conferia uma educação e uma tradição cultural liberal ainda relativamente viva.<br />

Também aí, não obstante todas as fundas divisões que os separavam dos comunistas, a<br />

mesma admiração, respeito e inclusivamente solidarieda<strong>de</strong> pela acção <strong>de</strong>senvolvida pelo<br />

<strong>PCP</strong>, mesmo que pelos anos 60 se tratasse já <strong>de</strong> uma geração <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> republicanos,<br />

sendo os seus filhos, jovens estudantes que transpunham as portas do Partido<br />

Comunista.<br />

Tratava-se processos, que vinham afinal acompanhando a afirmação <strong>de</strong> novas<br />

hegemonias no seio da oposição, o que naturalmente implicava outros paradigmas e<br />

outras formas organizacionais <strong>de</strong> luta contra o regime que se impusera ao país.<br />

Muitas vezes, misturavam-se essas ambiências familiares com o contacto<br />

directo, vivido em meio operário e popular, on<strong>de</strong> a presença do Partido Comunista<br />

latejava. Carlos Aboim Inglês, então um jovem estudante, justifica o abraço ao <strong>PCP</strong> em<br />

meados dos anos 40 justamente com esses dois factores:<br />

“(…) eu vivia, já há muitos anos, no bairro <strong>de</strong> Alcântara, que era um bairro<br />

operário (…) e havia também muitos estudantes (…) nos cafés havia uma certa<br />

mistura, um convívio intenso.<br />

E foi aí que eu vim, por esses contactos dos estudantes com malta operária<br />

digamos assim, que eu vim ao Partido, eu e outros…<br />

Portanto acor<strong>de</strong>i. E também pelo lado da minha família, que era uma família<br />

antifascista, o meu pai (…) participou nos movimentos antifascistas dos anos 30 com o<br />

1721 Rui perdigão, O <strong>PCP</strong> visto por <strong>de</strong>ntro e por fora, <strong>Lisboa</strong>, Fragmentos, 1988, p. 13<br />

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