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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Algumas funcionárias percebiam, por outro lado, que estavam perante um<br />

conjunto <strong>de</strong> problemas bastante mais enraizados do que uma mera prática partidária,<br />

que eram <strong>de</strong> natureza cultural profunda e que, por isso, vencê-los não era um simples<br />

passo <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> esforço abnegado, automático ou imediato.<br />

Em carta ao Secretariado, logo em Março <strong>de</strong> 1961, Leonor, que consi<strong>de</strong>ra<br />

justíssima a orientação <strong>de</strong> dar vida às células das casas clan<strong>de</strong>stinas, constata o exagero<br />

na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar rapidamente a situação vivida.<br />

“Não vos parece, queridos camaradas, que essa frase é burocrática e sem<br />

sentido realista, <strong>de</strong>sprezando a objectivida<strong>de</strong> dos factos?<br />

Depois <strong>de</strong> anos e anos <strong>de</strong> um abandono quási total à esmagadora maioria das<br />

funcionárias, a firmar «certos <strong>de</strong> que a rectificação dos erros se fará com rapi<strong>de</strong>z» é<br />

ser i<strong>de</strong>alista, é <strong>de</strong>seducativo” 1587 .<br />

Na realida<strong>de</strong>, a situação parece ter melhorado, pelo menos ao nível da qualida<strong>de</strong><br />

do boletim A Voz das Camaradas…, on<strong>de</strong> passam a publicar-se textos mais elaborados,<br />

mais adaptados à situação real do país e on<strong>de</strong> até se lançam alguns <strong>de</strong>bates que originam<br />

assomos <strong>de</strong> polémica e que dão vida ao boletim.<br />

Um <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bates é em torno do aburguesamento, lançado em Agosto <strong>de</strong> 1961<br />

através <strong>de</strong> em artigo não assinado e que se <strong>de</strong>senvolve pelo menos ao longo <strong>de</strong> dois<br />

anos, procurando <strong>de</strong> certa forma reequilibrar o lugar e a importância das activida<strong>de</strong>s<br />

domésticas no conjunto das activida<strong>de</strong>s que cabiam, ou <strong>de</strong>viam caber, às funcionárias.<br />

O tema parece suscitado pelo <strong>de</strong>sconforto manifestado por algumas funcionárias,<br />

quando constrangidas a mudarem <strong>de</strong> instalação e a alojarem-se em casa <strong>de</strong> militantes <strong>de</strong><br />

origem operária, passando a ter um nível <strong>de</strong> vida inferior ao que tinham nas instalações<br />

que anteriormente ocupavam. Mas o partido, através da Redacção retorquia com dureza,<br />

a redacção vincava que “Quando se per<strong>de</strong> o sentido <strong>de</strong> classe proletário, cai-se em<br />

formas <strong>de</strong> aburguesamento, que, <strong>de</strong>senvolvendo-se, po<strong>de</strong>m ir do mercenarismo à<br />

corrupção moral” 1588 .<br />

No entanto, também havia no corpo <strong>de</strong> funcionários quem manifestasse uma<br />

entrega total às ocupações domésticas, <strong>de</strong>dicando muitas horas aos trabalhos e arranjos<br />

na casa, como se isso fosse um fim em si mesmo. Porém, como se vincava, “A falta <strong>de</strong><br />

trabalho partidário e <strong>de</strong> vida política nas nossas casas, aliado aos hábitos burgueses<br />

1587<br />

TCL, 2º Juízo Criminal, Processo92/1962, 6º vol., fls 459, Leonor, Ao Secretariado do Comité Central do Partido<br />

Comunista Português, Março <strong>de</strong> 1961, dact., p. 1<br />

1588<br />

O “aburguesamento”, in A Voz das Camaradas das Casas do Partido, 20, Agosto <strong>de</strong> 1961<br />

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