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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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sólido entre homem e mulher, tais relações po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>saparece sem custo, ou ter um<br />

carácter provisório, ou substituir-se fácil e rapidamente. Tais concepções são<br />

completamente contrárias à orientação comunista sobre o problema do amor” 1551 .<br />

Neste discurso em torno da moral comunista ancoravam-se valores que pouco se<br />

distinguiam da moral tradicional, conservadora, <strong>de</strong> pendor puritano, que subordina a<br />

dimensão sexual das expressões afectivas a um casamento perene e à própria dinâmica<br />

da militância partidária e da <strong>de</strong>fesa do partido, que tudo se subordina, incluindo a<br />

sexualida<strong>de</strong> 1552 , portanto.<br />

Estas concepções articulavam-se <strong>de</strong>pois com o próprio papel do militante<br />

homem no seio do partido, por vezes numa ostensiva discriminação das suas<br />

companheiras. Isto está particularmente patente na divisão social do trabalho <strong>de</strong>ntro das<br />

casas clan<strong>de</strong>stinas, ainda que a orientação doutrinária não fosse formalmente essa.<br />

O boletim 3 Páginas, que inicia a sua publicação em Janeiro <strong>de</strong> 1946, pretendia<br />

reagir a essa situação, no que Cândida Ventura, que vinha trabalhando junto do CC<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1944, terá tido importante papel.<br />

Num interessante artigo publicado logo após o IV Congresso (2º Ilegal) sobre as<br />

resoluções aí tomadas em matéria <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> mulheres, afirmava-se que “(…) as<br />

mulheres valem porque lutam e portanto tem direitos iguais aos dos seus<br />

companheiros. Consi<strong>de</strong>ro que só agora com esta resolução, o partido abriu <strong>de</strong> facto as<br />

suas portas a estas pobres <strong>de</strong> Cristo que estavam cansadas <strong>de</strong> bater. Mas sejamos<br />

justos, também só agora o barulho que fizeram foi suficiente para ser ouvido” 1553 .<br />

Entendia o artigo que se tinha conseguido uma posição equilibrada, isto é, que<br />

evitava ser tanto “exageradamente feminista” como <strong>de</strong>senvolvendo um “complexo <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong>” perante os militantes homens. Era, nos termos do próprio artigo, a<br />

“compreensão da luta feminina”.<br />

Mas havia funcionárias que tendo iniciado a sua activida<strong>de</strong> nas instalações com<br />

funções domésticas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e <strong>de</strong> apoio “técnico” aos companheiros passassem ao<br />

trabalho <strong>de</strong> organização, isto é, passassem a controlar organizações territoriais ou<br />

sectoriais.<br />

Abandonando as tarefas <strong>de</strong> apoio que até aí lhes tinham estado atribuídas, isso<br />

implicava, por extensão, que <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> viver com um companheiro que tivesse<br />

1551<br />

IANTT, ADL, Tribunal Criminal <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, 3º Juízo, Processo 16557/61, 5º vol., fls 340, Como Lenine falava do problema<br />

sexual, dact., p. 1<br />

1552<br />

Cf Ana Barradas, As clan<strong>de</strong>stinas…, pp 74-75<br />

1553<br />

Joaquina, O 2º Congresso e a organização das mulheres, in 3 Páginas, 7, Outubro <strong>de</strong> 1946<br />

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