19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

voluntários nacionalistas indianos, que só não se alargaram a Goa e às restantes<br />

possessões, porque mal fora admitido na ONU, em Dezembro <strong>de</strong>sse ano, Portugal<br />

tratara <strong>de</strong> colocar o seu ponto <strong>de</strong> vista do problema no Tribunal Internacional <strong>de</strong> Haia,<br />

recolocando o problema na esfera diplomática 608 .<br />

Portanto, na altura em que a CC do MND é presa estava em marcha a diligência<br />

do regime junto da instância <strong>de</strong> Haia. A questão vinha motivando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1953 várias<br />

tomadas <strong>de</strong> posição do <strong>PCP</strong> quer na sua imprensa quer em comunicados próprios.<br />

Quando a União Indiana encerra a sua <strong>de</strong>legação diplomática em <strong>Lisboa</strong>, o<br />

Partido Comunista publica uma pequena nota no Avante!, em que responsabiliza o<br />

regime pelo facto, como consequência da recusa <strong>de</strong> Salazar a negociar. Acrescentava<br />

que isso se <strong>de</strong>via ao facto <strong>de</strong> Salazar querer entregar os recursos naturais das colónias na<br />

Índia aos imperialistas americanos e que “apoia os <strong>de</strong>sejos e reivindicações dos povos<br />

<strong>de</strong> Goa, Damão e Diu a po<strong>de</strong>rem dispor dos seus <strong>de</strong>stinos” 609 , que era o mesmo que<br />

aceitar o direito à auto<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sses territórios, mas como se tratava da<br />

integração num país in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, faz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r isso <strong>de</strong> negociações com o governo<br />

indiano.<br />

Para o Comité Central, que em Maio emite uma longa <strong>de</strong>claração 610 , Goa<br />

continuava apontada como uma base norte-americana, tornando essa região um foco <strong>de</strong><br />

<strong>guerra</strong> no mundo. Insistia, por isso, no regresso das tropas portuguesas e na via da<br />

negociação como vias para a resolução do problema, o que um artigo no Avante! <strong>de</strong><br />

Agosto mantém, embora reconheça que o problema colonial não era susceptível <strong>de</strong> ser<br />

resolvido no quadro do regime, vaticinando que “no caso concreto das colónias da<br />

Índia só um Governo <strong>de</strong>mocrático e amigo da paz po<strong>de</strong>rá entrar em negociações<br />

pacíficas com o povo goês e com a União Indiana e po<strong>de</strong>rá resolver pacificamente e<br />

por forma justa o problema <strong>de</strong> Goa e das outras colónias” 611 .<br />

Desta forma, a reivindicação <strong>de</strong> negociações tornava-se num mero instrumento<br />

apendicular <strong>de</strong> um eixo reivindicativo mais geral no campo da <strong>de</strong>fesa da paz, que era<br />

justamente o da resolução dos conflitos e tensões internacionais pela negociação<br />

pacífica num ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sanuviamento entre as gran<strong>de</strong>s potências.<br />

A questão era sensível. Mexia com o império e tocava numa corda mestra do<br />

imaginário que o regime construía sobre si próprio. Por isso, quando a Comissão<br />

608<br />

Cf. Fernando Rosas, História <strong>de</strong> Portugal. O Estado Novo..., pp 514-515 e M.M.S., Índia, Estado da, in Dicionário <strong>de</strong><br />

História..., 8.., pp 255-258<br />

609<br />

Pela auto-<strong>de</strong>terminação dos povos <strong>de</strong> Goa, Damão e Diu, in Avante!, VI série, 179, Agosto <strong>de</strong> 1953<br />

610<br />

Cf. O Comité Central do Partido Comunista Português, Declaração do Partido Comunista Português, Maio <strong>de</strong> 1954<br />

611 A política provocadora e agressiva do Governo, in Avante!, VI série, 190, Agosto <strong>de</strong> 1954<br />

234

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!