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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Ainda assim, a pressão da maioria dos <strong>de</strong>legados favoráveis à acção militar<br />

revolucionária obrigava a que se consi<strong>de</strong>rasse a criação <strong>de</strong> um comando operacional<br />

directamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da Junta Revolucionária e sob comando directo <strong>de</strong> Delgado,<br />

assim como se inscreviam nas respectivas conclusões a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar no curto<br />

prazo a acção revolucionária para <strong>de</strong>rrubar o regime 1314 , apelando à constituição e<br />

multiplicação <strong>de</strong> Juntas Patrióticas e outros organismos afectos à FPLN no interior do<br />

país.<br />

A cedência do <strong>PCP</strong> a este discurso significava apenas que naquela situação,<br />

entre os impulsos <strong>de</strong> Delgado e dos sectores que ansiavam pelas acções revolucionárias<br />

directas e o radicalismo da FAP, havia que engordar o discurso, <strong>de</strong> modo a que não<br />

ficasse campo livre para que essas tendências pu<strong>de</strong>ssem crescer, potenciando o risco <strong>de</strong><br />

isolamento e ultrapassagem do partido pela esquerda.<br />

O esforço <strong>de</strong> alargamento da FPLN no interior não parece, por sua vez ter<br />

surtido efeitos significativos e a estrutura <strong>de</strong> direcção executiva manteve-se bastante<br />

<strong>de</strong>sfalcada, com Flausino Torres a exercer uma activida<strong>de</strong> tenaz, mas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sgaste:<br />

“<strong>de</strong>ntro do País, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Conferência <strong>de</strong> Praga que andava num badanal<br />

– vai aqui, vai acolá, semana quase fora <strong>de</strong> casa; todos os fins <strong>de</strong> semana<br />

dois dias fora <strong>de</strong> casa, ao norte, ao sul, ao oeste, etc., etc.!” 1315<br />

No entanto, um acordo <strong>de</strong> princípio <strong>de</strong>terminava que a Junta <strong>de</strong> Argel só<br />

começaria a funcionar quando ali se encontrassem todos os seus membros,<br />

permanecendo em funções até lá a Comissão Delegada, o que, na prática, significava<br />

apenas um prurido formal, pois todos os seus membros transitaram para a JRP.<br />

O General Humberto Delgado seria submetido a intervenção cirúrgica em Praga<br />

e a sua <strong>de</strong>slocação para a capital argelina arrastar-se-ia durante vários meses, enquanto<br />

Cunhal continuaria a <strong>de</strong>legar em Pedro Soares a representação do <strong>PCP</strong> na Junta, durante<br />

mais alguns meses, vindo a ser substituído por Pedro Ramos <strong>de</strong> Almeida.<br />

Quando Humberto Delgado chega finalmente a Argel, em Junho <strong>de</strong>sse ano o<br />

quadro que encontra não é propriamente animador, ainda que prodigamente recebido<br />

por Ben Bella, que aliás o havia visitado durante a convalescença na Checoslováquia,<br />

satisfeitas que passavam a estar as condições logísticas e <strong>de</strong> apoio à instalação do<br />

general na capital argelina, mas aquém da magnificência que esperava e que reclamava.<br />

1314 Cf. Manuel Sertório, Humberto Delgado. 70 cartas…, p. 51<br />

1315 Cit. in Paulo Torres Bento, Flausino Torres [1906-1974]. Documentos e fragmentos biográficos <strong>de</strong> um intelectual<br />

comunista, Porto, Afrontamento, 2006, p. 184<br />

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