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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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problema político nacional, que é possível expulsar do Po<strong>de</strong>r o governo <strong>de</strong> Salazar<br />

sem <strong>guerra</strong> civil e sem violência” 675<br />

Essa solução assentava na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> reconciliação nacional, consubstanciada na<br />

união <strong>de</strong> todos os partidos e correntes anti-salazaristas para isolar a minoria que<br />

sustentava o governo, <strong>de</strong>rrubá-lo e restaurar as liberda<strong>de</strong>s. O instrumento seria uma<br />

frente eleitoral que aglutinasse todos esses vastos sectores e se apresentasse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo<br />

às eleições para a Assembleia Nacional em 1957.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação do regime, condição para que a frente anti-salazarista<br />

englobasse os <strong>de</strong>scontentes e trânsfugas, fazia com que a argumentação aduzida se<br />

baseasse principalmente em documentação do IV Congresso da União Nacional, que se<br />

reunira em Maio <strong>de</strong> 1956, <strong>de</strong>stacando profusamente as intervenções críticas que aí se<br />

expressam. Por outro lado, tenta aprofundar divergências, <strong>de</strong>scontentamentos e<br />

ressabiamentos <strong>de</strong> militares, monárquicos, católicos…<br />

A situação do país é pintada a traços carregados, evi<strong>de</strong>nciados indicadores<br />

económicos reveladores <strong>de</strong> retrocesso e estagnação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência externa, <strong>de</strong><br />

concentração económica <strong>de</strong> tipo monopolista, <strong>de</strong> <strong>de</strong>pauperação das camadas populares.<br />

Mas nem uma referência às mudanças que o país estava a atravessar, mudanças<br />

estruturais na socieda<strong>de</strong> portuguesa, com uma proletarização crescente, com o<br />

a<strong>de</strong>nsamento das cinturas industriais, com a contracção já visível do mundo rural, com a<br />

terciarização; do mesmo modo que ignora as importantes transformações que o<br />

lançamento das indústrias <strong>de</strong> base implicava e que a própria lógica do primeiro plano <strong>de</strong><br />

fomento introduzia.<br />

No entanto, com todas as lacunas e silêncios, essa era a resposta que o partido<br />

consi<strong>de</strong>rava mais a<strong>de</strong>quada aos <strong>de</strong>safios da nova situação política interna, constituindo<br />

ainda assim uma viragem <strong>de</strong> orientação importante, embora, sobretudo, fortemente<br />

influenciada pela nova orientação do movimento comunista internacional, pelo modo<br />

como se posicionava num novo ambiente internacional marcado pela política <strong>de</strong><br />

“<strong>de</strong>tente” e pelas suas reprercussões no quadro <strong>de</strong> cada país.<br />

Assim, as evoluções recentes no bloco soviético legitimavam as novas propostas<br />

que avançava, embora num quadro global <strong>de</strong> análise em que as mudanças estruturais<br />

eram objectivamente <strong>de</strong>svalorizadas em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma apreciação política que<br />

675 Comité Central do Partido Comunista Português, A situação política nacional e a posição do Partido Comunista Português,<br />

Edições «Avante!», Outubro <strong>de</strong> 1956, p. 1<br />

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