19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

transferência <strong>de</strong> 920$00 a outro quadro, presumivelmente para acudir a défice ou a<br />

<strong>de</strong>spesas extraordinárias.<br />

O aluguer da instalação era em regra uma operação complicada, dadas as<br />

condições dos arrendatários, sempre munidos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> falsa e sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cumprirem os preceitos legais que envolviam o aluguer. Normalmente o pagamento <strong>de</strong><br />

vários meses adiantados, por vezes um semestre, ajudava a criar um clima <strong>de</strong> confiança<br />

e facilitava o aligeiramento <strong>de</strong>ssas formalida<strong>de</strong>s. Mas, noutras vezes, uma conversa<br />

agradável e convincente, criando boa imagem ou empatia, conseguiam resolver o<br />

assunto sem recorrer a gran<strong>de</strong>s pagamentos iniciais.<br />

Em Maio <strong>de</strong> 1960, Laura, companheira <strong>de</strong> Jaime Serra, escassos meses após a<br />

fuga <strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Peniche e portanto ainda numa fase <strong>de</strong> vigilância policial acrescida,<br />

conseguiu alugar sozinha uma casa na Venda do Pinheiro, perto da Malveira,<br />

conseguindo convencer o senhorio <strong>de</strong> que o marido era engenheiro <strong>de</strong> minas na zona <strong>de</strong><br />

Coimbra on<strong>de</strong> trabalhava, tendo <strong>de</strong> vir por motivos profissionais para a zonba <strong>de</strong><br />

<strong>Lisboa</strong>, on<strong>de</strong> não conhecia praticamente ninguém na zona <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

Mas, como refere Serra, antes <strong>de</strong> alugar a casa, “Laura tinha apalavrado uma<br />

outra na Malveira, para a qual <strong>de</strong>ra já um sinal <strong>de</strong> 500$00, que recuperou a dobrar<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> «inci<strong>de</strong>nte» com a senhoria, quando esta manifestou certas reticências no<br />

aluguer, referindo-se aos «homens que andam para aí fugidos». Mostrando-se<br />

ofendida, a Laura disse que já não queria a casa” 1565<br />

Mas nem sempre isso era possível. O principal problema colocava-se com a<br />

utilização do Bilhete <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, obviamente falso, que era regra não serem<br />

utilizados nestas situações, pelo que <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>clarar que o documento havia<br />

caducado, <strong>de</strong>clarando ir abrir sinal num notário, on<strong>de</strong>, por sua vez, se dizia ter perdido o<br />

Bilhete e com duas testemunhas se contornava a situação.<br />

Foi o que fez Carlos Brito, em 1957, quando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fugir do Aljube, foi<br />

incumbido <strong>de</strong> arranjar instalação para si em <strong>Lisboa</strong>, na zona da Pontinha. “Aí fui eu ao<br />

notariado <strong>de</strong> Loures, consi<strong>de</strong>rado o mais apropriado (…). Lá consegui mobilizar, a<br />

troco <strong>de</strong> umas gorjetas, duas testemunhas que atestaram que me chamava Manuel<br />

qualquer coisa. Ainda era preciso arranjar um fiador. Também se conseguiu um<br />

merceeiro a troco do compromisso <strong>de</strong> gastar lá <strong>de</strong> casa. Finalmente pu<strong>de</strong> formalizar o<br />

contrato com o senhorio” 1566 .<br />

1565 Jaime Serra, Eles têm o direito <strong>de</strong> saber… , pp 168-69<br />

1566 Carlos Brito, Tempo <strong>de</strong> subversão, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 1998, p. 103<br />

651

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!