19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

situação parece chegar a um ponto <strong>de</strong> esgotamento nos centros urbanos, assistindo-se a<br />

uma <strong>de</strong>slocação do eixo da movimentação social e política para os campos do sul, on<strong>de</strong><br />

os assalariados haviam participado activamente no 1º <strong>de</strong> Maio.<br />

A reivindicação levantada a sul é pelas oito horas <strong>de</strong> trabalho. As consignas <strong>de</strong><br />

natureza política fora do quadro estrito do 1º <strong>de</strong> Maio ce<strong>de</strong>m passo às <strong>de</strong> natureza<br />

económica. A priorida<strong>de</strong> à reivindicação do horário <strong>de</strong> trabalho em relação à jorna fora<br />

objecto <strong>de</strong> uma forte discussão interna nos anos anteriores. A situação estava madura<br />

para constituir o gran<strong>de</strong> factor <strong>de</strong> mobilização dos assalariados.<br />

António Gervásio, um antigo assalariado agrícola, filho <strong>de</strong> pequenos<br />

proprietários empobrecidos, tornado funcionário ainda nos anos quarenta, <strong>de</strong>senvolvera<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre a sua activida<strong>de</strong> no sul do país. Quando preso em Agosto <strong>de</strong> 60, actuava<br />

justamente no Baixo Alentejo e Alentejo Litoral e tinha bem a percepção <strong>de</strong>sse<br />

amadurecimento.<br />

A fuga espectacular no carro <strong>de</strong> Salazar em Dezembro <strong>de</strong> 1961 da prisão <strong>de</strong><br />

Caxias, que arquitecta e em que participa, permite-lhe preparar e dirigir em Abril e<br />

Maio <strong>de</strong> 1962 a luta pelas oito horas.<br />

O ca<strong>de</strong>rno reivindicativo centra-se assim no horário <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>ixando cair<br />

para valores muito baixos as jornas reclamadas, o que, objectivamente contrariava a<br />

orientação da jorna <strong>de</strong> 50$00 para os homens, velha <strong>de</strong> quinze anos.<br />

Des<strong>de</strong> o mês anterior que o 1º <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1962 vinha sendo preparado –<br />

reuniões, conversas individuais, criação <strong>de</strong> Comissões <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>, Uma <strong>de</strong>ssas<br />

reuniões, já <strong>de</strong> ultimação <strong>de</strong> pormenores, a 29 <strong>de</strong> Abril, junta muitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

assalariados agrícolas, corticeiros e mineiros <strong>de</strong> várias al<strong>de</strong>ias dos concelhos <strong>de</strong><br />

Santiago, Grândola e até Ferreira do Alentejo. As questões <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>fesa estivaram<br />

presentes, <strong>de</strong>cidindo-se enfrentar <strong>de</strong> modo violento a repressão 1196 .<br />

Contrariamente às outras zonas do país, as movimentações não se centraram em<br />

data prévia, mas sucessivamente apontadas como momentos <strong>de</strong> concentração e<br />

manifestação, etapas <strong>de</strong> um processo reivindicativo, que segundo o <strong>PCP</strong>, teria contado<br />

com a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 250 mil trabalhadores e que se arrastou ao longo <strong>de</strong> todo o mês<br />

<strong>de</strong> Maio.<br />

Se numa primeira semana o movimento eclo<strong>de</strong> e está centrado no Alentejo<br />

Litoral, cujo Comité Regional do partido é controlado por António Gervásio, evoluirá<br />

1196 Cf Sobre as manifestações do 1º <strong>de</strong> Maio, a implantação das 8 horas <strong>de</strong> trabalho no campo e a acção <strong>de</strong> terror exercida<br />

pelo governo salazarista, dact., s.a., Maio <strong>de</strong> 1962, 7 pp<br />

470

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!