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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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duas centenas <strong>de</strong> feridos. No dia seguinte, duas companhias militares inva<strong>de</strong>m, pilham e<br />

incen<strong>de</strong>iam a al<strong>de</strong>ia, pren<strong>de</strong>ndo boa parte da população 1094 .<br />

Todavia, praticamente ao mesmo tempo que estes acontecimentos se<br />

<strong>de</strong>senrolavam, o Comité Director do MPLA divulgava uma <strong>de</strong>claração ao governo<br />

português em que exigia o reconhecimento do direito à in<strong>de</strong>pendência, reclamava uma<br />

amnistia para os presos políticos angolanos, o estabelecimento das liberda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>mocráticas e a retirada das forças militares portuguesas, mas sugerindo negociações<br />

“para a solução pacífica do problema colonial em Angola, no interesse das partes em<br />

presença” 1095<br />

Mas na realida<strong>de</strong> as acções <strong>de</strong> intimidação e <strong>de</strong> repressão aberta tornavam-se<br />

cada vez mais frequentes, com ostensiva presença militar e com frequentes rusgas e<br />

buscas nos bairros populares <strong>de</strong> Luanda, principalmente on<strong>de</strong> se concentrava a<br />

população negra.<br />

Na Guiné, por sua vez, já antes, em Junho <strong>de</strong> 1959, as tropas portugueses<br />

haviam reprimido com extraordinária violência uma greve dos portuários e estivadores<br />

<strong>de</strong> Pidjiguiti, no porto <strong>de</strong> Bissau, provocando meia centena <strong>de</strong> mortos, mais <strong>de</strong> cem<br />

feridos e <strong>de</strong>portando para S. Tomé os que sobreviveram ao massacre.<br />

Esta radicalização contraía a margem <strong>de</strong> manobra dos nacionalistas africanos em<br />

relação a uma possível resolução pacífica do problema colonial. Se, ainda em 1959, o<br />

PAI concluía pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lutar por todos os meios, inclusivamente através da<br />

luta armada, em Dezembro do ano seguinte seria o MPLA a <strong>de</strong>clarar numa conferência<br />

<strong>de</strong> imprensa em Londres que esta seria “a única alternativa para fazer prevalecer o<br />

direito dos povos à auto<strong>de</strong>terminação e à in<strong>de</strong>pendência” 1096 .<br />

O Avante! ia noticiando regularmente o <strong>de</strong>sabrido comportamento repressivo das<br />

autorida<strong>de</strong>s coloniais e das forças militares portuguesas, responsabilizava o governo <strong>de</strong><br />

Salazar por esta orientação violenta, insistindo como “A sombria perspectiva duma<br />

criminosa <strong>guerra</strong> colonial pesa como uma ameaça real sobre o nosso povo e os povos<br />

subjugados pelos colonialistas portugueses” 1097 e que se tornava necessário travar os<br />

preparativos <strong>de</strong> <strong>guerra</strong> através do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> diversificadas acções <strong>de</strong> luta<br />

popular 1098 .<br />

1094<br />

Cf. Declaração do MPLA, Conakry, 25 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1960, in Um amplo movimento.., pp 384-386<br />

1095<br />

Cit. in Como Salazar respon<strong>de</strong> aos legítimos representantes do povo <strong>de</strong> Angola, in Avante!, VI série, 293, Setembro <strong>de</strong><br />

1960<br />

1096<br />

Cf. João Paulo Guerra, Memória das <strong>guerra</strong>s… , pp 201 e 126, respectivamente<br />

1097<br />

Corre o sangue do povo <strong>de</strong> Angola, in Avante!, VI série, 292, Agosto <strong>de</strong> 1960<br />

1098<br />

Cf. Horas sombrias para Portugal. A política colonial do Governo <strong>de</strong> Salazar está errada. Deve reconhecer-se aos povos<br />

coloniais o direito à auto<strong>de</strong>terminação, Avante!, VI série, 294, Outubro <strong>de</strong> 1960<br />

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