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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Tinha sido esse, segundo o informe, o sentido das medidas tomadas pelo<br />

ministro da economia entre a terceira semana <strong>de</strong> Abril e a segunda <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1947 –<br />

fim do racionamento da electricida<strong>de</strong>, aumento dos quantitativos <strong>de</strong> racionamento <strong>de</strong><br />

lenhas e carvão, in<strong>de</strong>ferimento <strong>de</strong> pedidos <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> preços, passagem <strong>de</strong> alguns<br />

géneros a regime <strong>de</strong> venda livre, abaixamento do preço do petróleo e gasolina. E<br />

alertava:<br />

“Não nos iludamos com as promessas fascistas. As pequenas<br />

concessões a que é obrigado pela luta do povo, e as promessas, não<br />

modificam no essencial a sua política. Muitas das medidas anunciadas,<br />

particularmente as importações, criarão novas e graves dificulda<strong>de</strong>s à<br />

economia nacional. Muitas das suas promessas e afirmações visam apenas<br />

iludir o <strong>de</strong>scontentamento e, como sempre, quebrar a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> luta do<br />

povo. (...) O que é senão <strong>de</strong>magogia o estardalhaço feito acerca da<br />

permissão das ceias para boémios e das baixas dos preços das sanduiches,<br />

das torradas e dos pastéis <strong>de</strong> nata ?” 412<br />

Álvaro Cunhal expõe minuciosamente o que consi<strong>de</strong>ra ser a gran<strong>de</strong> manobra do<br />

regime, isto é, toda a atracção, exercida <strong>de</strong> modo mais ou menos discreto, da<br />

reconciliação ou <strong>de</strong> benesses acenadas, para dividir o campo da oposição e chamar a si<br />

os sectores mais conservadores. O Partido Comunista entendia bem que a unida<strong>de</strong><br />

oposicionista apresentava fissuras instáveis, que se podiam facilmente alargar,<br />

<strong>de</strong>smoronando o edifício que fora sendo tecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1943 em torno do MUNAF,<br />

primeiro e do MUD, <strong>de</strong>pois.<br />

Curiosamente, se entrevê essa possibilida<strong>de</strong> como resultado do clima<br />

anticomunista e <strong>de</strong> velhos preconceitos do mesmo teor, agora revivescentes, também<br />

assaca responsabilida<strong>de</strong>s à <strong>de</strong>legação do <strong>PCP</strong> no MUNAF, pelas suas posições<br />

hesitantes, que é o mesmo que dizer, pela incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e impor os pontos<br />

<strong>de</strong> vista do partido.<br />

O principal perigo nestas matérias eram os sinais <strong>de</strong> reagrupamento fora do<br />

MUNAF, a conexão que po<strong>de</strong>ria ser estabelecida entre os as alas mais “liberalizantes”<br />

do regime e os grupos civis e militares mais à direita do espectro oposicionista,<br />

<strong>de</strong>signadamente o namoro, fundado em velhas amiza<strong>de</strong>s, entre Júlio Botelho Moniz e<br />

Cunha Leal, por um lado, e, por outro, o quase pavor <strong>de</strong> um abraço <strong>de</strong>ste a ex-<br />

comunistas que mantinham alguma auréola política e que nos anos anteriores foram<br />

412 I<strong>de</strong>m, p. 21<br />

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