19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

um núcleo restrito <strong>de</strong> dirigentes e quadros comunistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1947, o que leva a admitir<br />

que o assunto tivesse sido já abordado antes do périplo internacional <strong>de</strong> Álvaro Cunhal.<br />

É que, ao mesmo tempo, Norton <strong>de</strong> Matos era presi<strong>de</strong>nte da Comissão<br />

Consultiva do MUD e por menos que a direcção do <strong>PCP</strong> gostasse <strong>de</strong>ssa estrutura, o<br />

certo é que perante a intimidação para ilegalizar o MUD, a sua candidatura po<strong>de</strong>ria vir a<br />

representar um novo fôlego do MUD e da estratégia comunista <strong>de</strong> resistir a essa medida,<br />

forçando a sua legalida<strong>de</strong> no quadro do regime.<br />

O facto ainda <strong>de</strong> ser presi<strong>de</strong>nte da CNUAF contribuía para relançar esse<br />

organismo, que o <strong>PCP</strong> entendia como dirigente da resistência ao regime e que <strong>de</strong>cidiria<br />

por unanimida<strong>de</strong> avançar com a sua candidatura até ao fim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitadas<br />

condições políticas mínimas 429 .<br />

A 9 <strong>de</strong> Julho, finalmente, Norton <strong>de</strong> Matos apresenta o documento À Nação, a<br />

sua <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> candidatura e quer o CNUAF quer o <strong>PCP</strong> tratarão quase <strong>de</strong> imediato<br />

<strong>de</strong> editar documentos em seu apoio.<br />

Para o Partido Comunista tornava-se, no entanto, fundamental estabelecer as<br />

orientações para a estruturação e <strong>de</strong>senvolvimento da campanha eleitoral, o que em<br />

boa medida irá ser con<strong>de</strong>nsado em documento próprio editado pelo Secretariado do<br />

Comité Central em Novembro <strong>de</strong>sse ano, mesmo à boca da campanha eleitoral.<br />

As maiores resistências à candidatura <strong>de</strong> Norton <strong>de</strong> Matos vinham dos grupos <strong>de</strong><br />

António Sérgio e Cunha Leal, sectores por on<strong>de</strong> se plasmava em malha mais larga a<br />

articulação com a corrente liberalizante do regime, <strong>de</strong> que figura mais operativa era<br />

Júlio Botelho Moniz, cujo projecto político consistiria, segundo o <strong>PCP</strong>, no<br />

esvaziamento e <strong>de</strong>smantelamento do MUD e sua substituição por uma organização –<br />

uma Frente Patriótica – que agrupasse as correntes mais mo<strong>de</strong>radas e conservadoras da<br />

oposição, incluindo os <strong>de</strong>scontentes e dissi<strong>de</strong>ntes do regime, e, naturalmente, aquela que<br />

o próprio Botelho Moniz ajudava a corporizar <strong>de</strong>ntro do Estado Novo.<br />

Tinha havido uma tensão surda em torno da escolha do candidato, com António<br />

Sérgio, colocado fora da Comissão Central do MUD, mas enquanto “notável” e membro<br />

da Comissão Consultiva do Movimento, a preferir uma personalida<strong>de</strong> com maior<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> penetração e <strong>de</strong>sagregação <strong>de</strong>ntro do regime e <strong>de</strong> polarizar a direita<br />

oposicionista, fosse o Professor Egas Moniz ou o briga<strong>de</strong>iro Costa Ferreira 430 .<br />

429<br />

Carta <strong>de</strong> António Dias Lourenço, in Alberto Vilaça, Bento <strong>de</strong> Jesus Caraça Militante integral do ser humano, Campo das<br />

Letras, Porto, 1999, p. 174<br />

430<br />

Cf. Secretariado do Partido Comunista Português, Alguns aspectos da activida<strong>de</strong> do Sr. A.S. contrárias à orientação do<br />

Conselho Nacional, Agosto <strong>de</strong> 1948, dact., 4 pp. In Arquivo Mário Soares, 2597.004, [14-17]<br />

169

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!