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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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anterior e concluía que “se não tratarmos da saú<strong>de</strong> dos camaradas, e <strong>de</strong> tantas outras<br />

coisas que estão ligadas ao trabalho doméstico, contribuímos para uma fraqueza<br />

perigosa do nosso Partido” 1572<br />

Na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>stes pontos <strong>de</strong> vista chegava-se mesmo a criticar os quadros que nas<br />

instalações entendiam que o excesso <strong>de</strong> zelo nas tarefas domésticas acabava por<br />

constituir uma forma das companheiras fugirem ao estudo. Segundo Pieda<strong>de</strong> Gomes dos<br />

Santos (Ilídia), seria frequente ver funcionários “criticarem-nos quando estamos a<br />

coser ou a fazer outro trabalho, como tricot ou renda, por lhes parecer que estamos a<br />

<strong>de</strong>sperdiçar o tempo que tão útil nos seria para estudar” 1573<br />

Pieda<strong>de</strong>, companheira <strong>de</strong> Joaquim Gomes, já membro do Comité Central<br />

<strong>de</strong>fendia as tarefas domésticas no quadro da activida<strong>de</strong> partidária, fosse para assegurar<br />

condições <strong>de</strong> trabalho aos funcionários com quem viviam ou para poupar fundos ao<br />

partido.<br />

Mas não era apenas a questão do estudo, pois todo um outro conjunto <strong>de</strong> tarefas<br />

era igualmente requerido às funcionárias, como organizar os documentos, fazer recortes<br />

do jornal com as notícias mais importantes ou dactilografar relatórios. Nesse caso,<br />

quando o problema era posto abertamente, tornava-se obviamente difícil que alguém<br />

viesse <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o primado do trabalho doméstico sobre tarefas <strong>de</strong> outra natureza. É isso<br />

que faz com que Maria, que em Fevereiro <strong>de</strong> 57 <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra o trabalho doméstico viesse<br />

colocar as questões noutros termos, bastante mais equilibrados, reconhecendo a rotina e<br />

a monotonia das tarefas da casa, como limpar, cozinhar, lavar que, <strong>de</strong>vendo ser<br />

esforçadamente realizadas, não se po<strong>de</strong>riam era sobrepor a outras tarefas consi<strong>de</strong>radas<br />

mais urgentes 1574 .<br />

De qualquer modo, exceptuando o estudo, todas as tarefas da casa eram vistas<br />

em função do funcionário que aí vivia fossem estritamente domésticas ou revestindo<br />

aspectos <strong>de</strong> natureza mais “técnica”.<br />

Em função disso, as relações dos funcionários com as companheiras, a propósito<br />

do cumprimento das tarefas atribuídas ou do apoio a prestar, nem sempre serenas,<br />

havendo situações <strong>de</strong> tensão, com críticas e censuras frequentes, provocando <strong>de</strong>sgaste e<br />

crispação. “Há camaradas que não dão tempo às amigas <strong>de</strong> se tornarem responsáveis e<br />

agirem por si. Estes camaradas ralham constantemente. Andam a todo o momento em<br />

cima das pessoas, sabem tudo, controlam todos os passos, que até faz impressão.<br />

1572<br />

Perpétua, Queridas Camaradas, i<strong>de</strong>m, 14, Novembro-Dezembro <strong>de</strong> 1957<br />

1573<br />

Ilídia, Coisas que eu sinto, i<strong>de</strong>m, 11, Maio-Junho <strong>de</strong> 1957<br />

1574<br />

Maria, As nossas tarefas domésticas, i<strong>de</strong>m, 14, Novembro-Dezembro <strong>de</strong> 1957<br />

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