19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mulheres e crianças foram violadas, museus, hospitais e outros edifícios<br />

foram incendiados ou <strong>de</strong>struídos pelos contra-revolucionários nazis. Assim<br />

conseguiram os fascistas estabelecer na Hungria o caos, o terror e a<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m durante vários dias” 681 .<br />

A esta argumentação apocalíptica e completamente manipulatória, o documento<br />

insinuava, ainda assim, alguns dos verda<strong>de</strong>iros motivos que levaram à intervenção<br />

militar soviética – a <strong>de</strong>struição das conquistas alcançadas, que é o mesmo que dizer, do<br />

regime <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia popular; a quebra dos laços com o campo socialista mundial, isto<br />

é, a saída da Hungria do Pacto <strong>de</strong> Varsóvia; a restauração do capitalismo, ou seja a<br />

ruptura em relação aos limites reformistas tolerados pela URSS.<br />

Deste modo justificava a intervenção soviética, no fundo, alegadamente, em<br />

nome da <strong>de</strong>fesa do património revolucionário húngaro, do internacionalismo proletário<br />

e da causa da paz na Europa.<br />

Cimentava, por outro lado, o terreno para se insurgir contra a gran<strong>de</strong> campanha<br />

anti-comunista nacional e internacional e <strong>de</strong>nunciar a confusão que propositadamente<br />

estavam a lançar sobre o movimento operário, comparando a situação à que se vivera<br />

na <strong>guerra</strong> civil <strong>de</strong> Espanha ou com o Pacto Germano-Soviético, ainda que concluísse<br />

que a situação era distinta, mas apenas porque a correlação <strong>de</strong> forças a nível mundial era<br />

mais favorável para o campo socialista e para os partidos comunistas.<br />

Para consolidar essa posição, o Avante! publica um resumo da Declaração do<br />

governo soviético sobre os acontecimentos na Hungria, mas em que, como que olhando<br />

para a frente, diz reportar-se às “bases do <strong>de</strong>senvolvimento e fortalecimento da amiza<strong>de</strong><br />

e da colaboração entre a União Soviética e os outros países socialistas” 682<br />

O aproveitamento propagandístico da situação passou, em Portugal, por uma<br />

resolução do Conselho <strong>de</strong> Ministros, por manifestações organizadas pela Mocida<strong>de</strong><br />

Portuguesa, pela Legião ou pelos Sindicatos Nacionais, por uma caudalosa produção<br />

jornalística e por uma campanha dita <strong>de</strong> auxílio ao povo húngaro.<br />

Nestas frentes, o <strong>PCP</strong> procurou, como pô<strong>de</strong>, contrapor a sua visão. À campanha<br />

<strong>de</strong> auxílio, por exemplo, clamava contra as toneladas <strong>de</strong> géneros e agasalhos que o<br />

governo português canalizava para lá, ao mesmo tempo que não tinha “quanto aos<br />

famintos, crianças e mulheres andrajosas do nosso País” 683 , as mesmas preocupações.<br />

681 I<strong>de</strong>m<br />

682 Resumo da Declaração do Governo Soviético, in Avante!, VI série, 224, Novembro <strong>de</strong> 1956<br />

683 Declaração do Partido Comunista Português sobre a agressão…<br />

271

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!