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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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mirífica candidatura <strong>de</strong> Cunha Leal e a reboque do próprio sentido popular espontâneo<br />

que durante duas semanas se <strong>de</strong>rramou pelas ruas e ripostou <strong>de</strong> pedras na mãos à<br />

violência policial.<br />

No fundo, o partido estava amarrado à linha política aprovada recentemente em<br />

congresso que, traduzindo-se no apoio a um candidato que unisse os sectores da<br />

oposição <strong>de</strong>mocrática e da oposição anti-salazarista. A estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação<br />

interna e <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrube pacífico do regime que fora legitimada pelo congresso, colocava o<br />

<strong>PCP</strong> a reboque da estratégia da direita oposicionista numa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência, pois o candidato Delgado cumpria esses requisitos <strong>de</strong> modo muito mais<br />

eficaz que o putativo Cunha Leal ou uma qualquer frustrada alternativa à sua recusa em<br />

ser candidato.<br />

Quando esses sectores se mostratram mais eficientes quanto à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sagregação do regime, mais facilmente conseguiram neutralizar Cunha Leal, o que<br />

objectivamente significou que o <strong>PCP</strong> ficou sem candidato e sem política para as<br />

eleições<br />

O Partido Comunista podia compreen<strong>de</strong>r que se vivia uma situação nova no<br />

regime, mas mostrava-se incapaz <strong>de</strong>, em consonância, traçar uma nova política <strong>de</strong> classe<br />

e <strong>de</strong> alianças, autónoma. A alternativa finalmente encontrada em Arlindo Vicente está<br />

muito longe <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r a isso mesmo. Se este não é, objectivamente, o candidato<br />

do “<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita” também não correspon<strong>de</strong> a uma outra orientação para a<br />

intervenção em período eleitoral.<br />

O <strong>PCP</strong> hesita até ao limite em apoiar Humberto Delgado não por falta <strong>de</strong><br />

atenção à evolução da conjuntura política nem por uma espécie <strong>de</strong> sectarismo atávico,<br />

pois ao fim e ao cabo estava disposto, na mesma linha, a apoiar Cunha Leal. O que<br />

Delgado traz <strong>de</strong> novo, irrompendo impetuosamente é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar as massas<br />

populares na rua, em ebulição e num acentuado processo <strong>de</strong> radicalização política. E era<br />

isso que não estava <strong>de</strong> todo nas previsões do <strong>PCP</strong>, como <strong>de</strong> resto nos sectores<br />

<strong>de</strong>lgadistas propriamente ditos, evi<strong>de</strong>ntemente incomodados com toda essa turbulência.<br />

Tão inesperada radicalização e combativida<strong>de</strong> populares colidiam frontalmente<br />

com as teses <strong>de</strong>sagradoras do regime, com a via da transição pacífica, ameaçando<br />

transformar-se numa insurreição popular, pelo a incapacida<strong>de</strong> manifestada pelo <strong>PCP</strong><br />

acaba por radicar na essência do próprio “<strong>de</strong>svio <strong>de</strong> direita”.<br />

A segunda gran<strong>de</strong> crise do regime estampava-se em torno <strong>de</strong>stas eleições e nela<br />

agiam como segmentos socialmente dinâmicos, novos extractos <strong>de</strong> um proletariado<br />

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