19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Baleizão, por exemplo, a greve teria sido total, envolvendo dois mil operários agrícolas<br />

e arrastando também os pequenos ofícios locais, como os sapateiros e os barbeiros 888 .<br />

Configuram-se assim, praticamente coinci<strong>de</strong>ntes no tempo dois consi<strong>de</strong>ráveis<br />

núcleos grevistas – um nas cinturas norte e sul <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> e outro nos campos do<br />

Alentejo, o que configurava uma perspectiva animadora para pensar a projecção e o<br />

alargamento das greves a outros sectores e outras regiões do país.<br />

No sul, a greve dos assalariados rurais do Couço, adquire significado pela sua<br />

duração, pela forma como foi <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada e pela organização e impacto que revelou<br />

na zona. Ocorrendo a 23 <strong>de</strong> Junho, durou oito dias e teria sido preparada e <strong>de</strong>senvolvida<br />

pela organização local do <strong>PCP</strong>, numa altura em que estavam cortados os canais<br />

orgânicos com o aparelho <strong>de</strong> direcção regional 889 , só reatados em Julho.<br />

A paralisação foi praticamente total e acompanhada pela concentração <strong>de</strong> muitas<br />

centenas <strong>de</strong> pessoas à volta do posto da GNR reclamando a libertação dos presos, que<br />

conseguem.<br />

As comunicações foram cortadas com um fio <strong>de</strong> arame, <strong>de</strong> modo a provocar o<br />

cruzamento <strong>de</strong> linhas e só seriam restabelecidas perto da meia-noite, mas logo em<br />

seguida <strong>de</strong> novo cortadas, por mais duas vezes 890 .<br />

Nos dias seguintes, organizam-se grupos, que chegavam a ter cem e mais<br />

pessoas, que partiam para os lados <strong>de</strong> Coruche, das barragens <strong>de</strong> Montargil e Maranhão<br />

ou para os canais <strong>de</strong> Avis e Mora, evitando as principais estradas, que a GNR percorria<br />

e on<strong>de</strong> estabelecia barreiras, com vista a abordar os ranchos em trabalho pelos campos<br />

ou os trabalhadores do complexo hidráulico em construção, apelando e pressionando a<br />

que a<strong>de</strong>rissem à greve.<br />

Apesar das primeiras prisões, o movimento prossegue 891 . Será apenas pelos<br />

últimos dias <strong>de</strong> Junho, com a intensificação da repressão que o movimento será<br />

<strong>de</strong>cepado, mas muitos conseguem escapar à prisão, fugindo para os campos.<br />

Também na zona <strong>de</strong> Montemor-o-Novo, S. Cristovão e Escoural a greve, que<br />

eclodiu a 23 <strong>de</strong> Junho, foi preparada alguns dias antes em reuniões que juntaram muitos<br />

trabalhadores, como a <strong>de</strong> Montemor que reuniu num olival duas centenas e em que<br />

estiveram presentes não só os membros do Comité Local como o funcionário do <strong>PCP</strong> no<br />

888<br />

Cf. Informações, dact., 1 p., Processo. 90/62... , 14º vol, apenso a fls 763<br />

889<br />

Cf Lemos [António Gervásio], Ainda acerca das greves do Couço e Campo Maior, in O Militante, III série, 101, Julho <strong>de</strong><br />

1959, p. 10<br />

890<br />

Cf Relatório do] Chefe <strong>de</strong> Brigada da PIDE, 28 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1958, PC 1127/58..., [[360-364]<br />

891 I<strong>de</strong>m, p. 2<br />

344

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!