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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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aspectos e a situações concretas, passando a constituir matéria passível <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong><br />

execução na estrutura vertical que, <strong>de</strong> cima abaixo, verificava e inspeccionava<br />

directamente não só a actuação política, como as condições <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> cada<br />

instalação e o comportamento quotidiano, preten<strong>de</strong>ndo ir até ao mais pequeno<br />

pormenor.<br />

A correspondência sob a forma <strong>de</strong> carta ou telegrama, assim como os<br />

telefonemas, eram estritamente proibidos quer para a marcação <strong>de</strong> encontros quer para<br />

contacto com a família, <strong>de</strong>vendo esta, por exemplo, ser expressamente autorizada:<br />

“O Secretariado resolve que qualquer correspondência <strong>de</strong>ste tipo, <strong>de</strong><br />

camaradas funcionários, só po<strong>de</strong> <strong>de</strong> futuro ser estabelecida por via da organização.<br />

Qualquer outra solução aconselhável por circunstâncias particulares, <strong>de</strong>ve ser<br />

anteriormente aprovada pelo Secretariado. (Circular nº 5, Julho <strong>de</strong> 1947)” 1487 .<br />

Em nome da <strong>de</strong>fesa do partido, a correspondência, mesmo particular, privada,<br />

circulava verticalmente, <strong>de</strong> funcionário em funcionário, até chegar ao sector partidário<br />

da região do <strong>de</strong>stinatário, para ser, por essa via, finalmente entregue. Este percurso era,<br />

em regra, <strong>de</strong>morado e podia implicar a verificação e eventual expurgo do seu conteúdo<br />

pelo Secretariado do Comité Central.<br />

Este controlo da circulação da correspondência dos funcionários constitui um<br />

elemento distintivo em relação ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> clan<strong>de</strong>stina aplicado antes da<br />

reorganização <strong>de</strong> 1940-41 1488 , reforçando a <strong>de</strong>fesa conspirativa e a segurança da<br />

activida<strong>de</strong> partidária, regulando e centralizando o controlo, mesmo no que se refere aos<br />

procedimentos que se relacionavam com a vida privada e íntima dos quadros..<br />

Este sistema, tornava-se <strong>de</strong> difícil compatibilização com situações bastante<br />

<strong>de</strong>licadas e imprevistas no caso, por exemplo, da doença ou do falecimento <strong>de</strong><br />

familiares próximo dos funcionários.<br />

Pieda<strong>de</strong> Gomes dos Santos, mulher <strong>de</strong> Joaquim Gomes, presa em Dezembro <strong>de</strong><br />

1958 seria libertada condicionalmente em Setembro <strong>de</strong> 1964 com a condição <strong>de</strong> ir<br />

residir para a Marinha Gran<strong>de</strong>, don<strong>de</strong> era natural; mas 15 dias <strong>de</strong>pois regressaria à<br />

clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>, tendo a PIDE intimado o seu velho pai a regressar 24 horas <strong>de</strong>pois com<br />

ela ou com 50 contos. Desesperado, humilhado com o opróbrio, suicidar-se-ia. Só dois<br />

meses <strong>de</strong>pois Pieda<strong>de</strong> viria a saber da morte do seu pai, quando o seu companheiro<br />

naturalmente lho disse, ao juntar-se-lhe <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong> separação, julgando que<br />

1487<br />

TCL, 4º JC, Processo 59/61 [44685], 4º vol., apenso a fls 297, Resoluções extraídas das Circulares do Secretariado até ao nº 25,<br />

dact., p.4<br />

1488<br />

Cf Aida Paula, in Rose Nery Nobre <strong>de</strong> Melo, Mulheres portuguesas na resistência, <strong>Lisboa</strong>, Seara <strong>Nova</strong>, 1975, p. 36<br />

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